Qual a melhor definição para Turismo? Aquela que deveríamos almejar para Cabo Verde? Tenho-me re-colocado esta questão, n vezes… desde que ouvi da voz dum PM das Ilhas… em como a nossa aposta/solução seria o Turismo. Até aplaudi, pensando: o que não temos (riqueza, dinheiro, desenvolvimento), bem que pode ‘aparecer’ com turistas ‘mais ou menos endinheirados’ a movimentar a terrinha, passeando, conhecendo, consumindo… por algumas horas que seja que “turistem” pelas Ilhas. Porque algumas coisas básicas (trunfos) temos: um lugar sossegado, praias, sol, mar azul-turquês, morabeza… Que bom!
Mas não temos infra-estruturas, (Resorts, hotéis, piscinas, museus, centros culturais), artesanato ou outros produtos ‘made in Cabo Verde’. Só cachupa, grogue e música… pode não chegar… Enfim, um redemoinho de ideias e de preocupações… é preciso organizar, investir!
Ou, já mais de acordo com a definição mais consensual, da Organização Mundial de Turismo, ‘uma forma de desfrutarmos das actividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros," mas sem que estes (os turistas) tenham por motivação maior a obtenção de lucro. Um conceito mais à Thomas Cook: o prazer de viajar por terras desconhecidas, para ver, conhecer… mas é preciso investir! Investir em construção… mas também e sobretudo, na formação e na organização de infra-estruturas que criem o produto a vender.
Os anos foram passando, construção/betão desenfreado e sem controlo na Ilha do Sal… com um turismo incipiente e fechado no ‘sol, praia e mar’, e mais virado para o ‘indigno’ de pacotes ‘all inclusive’… nada de agências, organizações, infra-estruturas outras, nem incremento de produtos ‘made in Cabo Verde’… Master Plan do Turismo, só em sonhos d’alguns… e dois PM’s mais tarde, um JMN a abundar na mesma direcção: “O turismo é um dos motores de crescimento. Há o turismo e há a indústria ligeira voltada para a exportação. São dois sectores que poderão ser motores de crescimento. Mas há outros sectores importantes, como os transportes aéreos e marítimos. Queremos transformar Cabo Verde num centro principal de passageiros e cargas na região do Atlântico, como uma grande porta de entrada para África. E queremos que Cabo Verde se transforme numa importante praça financeira. Estamos a trabalhar neste sentido e também no domínio das novas tecnologias de telecomunicações e informações”. E na prática, a persistência na especulação imobiliária…betão/betão… e sua exportação para a Boavista, depois do quase esgotamento do Sal.
O motivo da actualização constante do conceito preconizado prende-se com o que chamo de ‘desvio’ visível a olho nú, no dia-a-dia das informações que mais saem, à volta do tema Turismo: Imobiliárias e venda de terrenos com, pelo meio, uma infinidade de especuladores a servirem de intermediários. E a sensação a tornar-se certeza, não se sente a preocupação ecológica de que há que proteger, no meio de tudo isso, a dimensão ambiental do país. O caso Murdeira, da actualidade, é um exemplo sintomático dessa situação de falta ou insuficiente precaução/amor para com a manutenção do equilíbrio ambiental, demonstrando a errónea certeza e determinação do investimento/desenvolvimento a qualquer custo. Porque parece que estamos alucinados pelo investimento total e incondicional nesse tipo de turismo... Só que, nessa via, depois de ‘chupado… o bagaço é atirado fora’.
Desenvolvimento em primeiro lugar, a confirmar-se em Novembro do ano passado, com o Conselho de Ministros Especializado para os Assuntos Económicos, Inovação e Competitividade reunido no Sal, para constatar o impacto da crise financeira internacional no sector da Imobiliária turística… com os governantes a enfrentarem o despedimento de mais de 700 trabalhadores em infra-estruturas turísticas em fase de construção, marcando o ambiente económico daquela ilha, num ambiente onde o Ambiente continua a ser o filho menor. Aliás o clima de crise financeira está-nos já a afectar, no sector imobiliário turístico, mais forte nas ilhas do Sal e da Boavista.
E o pior é que se sente no ar, que deuses menores podem estar a conjugar no sentido do poder financeiro estar a engolir o bom senso de certos corredores do poder politico...
E o pior é que se sente no ar, que deuses menores podem estar a conjugar no sentido do poder financeiro estar a engolir o bom senso de certos corredores do poder politico...
A lei da selva a imperar na compra/venda de terrenos, malabarismos mil em relação à propriedade dos terrenos que conseguem a proeza de ter vários donos… e o pior: cada vez mais, constatar que os mesmos ‘pedaços de chão das Ilhas’ vão passando a pertencer, em grande parte, a estrangeiros. Não consigo deixar de me perguntar: Cabo Verde estará à venda? O que vai acontecer quando já não haverá mais terrenos para vender? Que país vamos deixar para os nossos filhos e netos? Ainda haverá país?
Quero crer que estamos ainda em tempo de arrepiar caminho. De passar a dar o devido valor a estes ‘dez grãozinhos de terra’ que são a nossa única riqueza, e acautelar no máximo o frágil equilíbrio ambiental destas Ilhas, ponderando e apostando num desenvolvimento sustentado e amigo do ambiente. Porque podemos e devemos ganhar mais, com um turismo em que os nossos visitantes – turistas especiais – virão para ver, conhecer, conviver, e não sugar/destruir… mas para desfrutar/apreciar isto que temos de diferente, e queremos continuar a ter: “paisagens desérticas e lunáticas, tingidas do castanho seco e ‘destorrado’, vulcões activos ou não, praias de areias brancas ou negras que desaguam em aguas límpidas de um mar arco-íris de azuis mil, uma bela arquitectura nascida dos tempos de colónia portuguesa num S.Nicolau ou numa S.Vicente caldeirão de misturas culturais, de um Santo Antão de montanhas de tirar fôlego até a uma Brava perdida na neblina, passando pelo fogo do Vulcão Fogo, quinhentos anos de história e cultura nascidas no berço de Santiago, um clima quente e ensolarado particularmente no Maio, Boavista e no Sal, sem esquecer uma misteriosa e bela Santa Luzia. Enfim um caleidoscópio de ambientes e paisagens – a que poderemos juntar a música e mais manifestações culturais seculares - que Cabo Verde e o seu povo têm… e que poderão ‘deixar ser descoberto por esse tal Turista que vale à pena’.
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5 comentários:
Tema interessante e pontual Fonseca, esse ultimo "Joint". Um belo texto.Esperemos que os nossos agentes de turismo, outros caboverdianos e investidores em geral o leiam. Pois, serviria para uma grande reflexao.
Quel Abrass,
PS- Desculpe a escrita. Teclado ingles.
Ao Blogjoint, G, interessa provocar o debate, a chamada de atenção para problemas, dificuldades e/ou possíveis desvios... sobretudo que se fale de assuntos de interesse e que preocupam os caboverdianos.Um abraço Caboverdiano.
Gostei. Turismo sem abuso e estragar nossa terra.
Oi um ponto interessante entre o teu post e o meu é essa excessiva concentração no turismo que pode vir a por tudo a perder.
O Turismo só pode contribuir se integrado no dia-a-dia do cabo-verdiano e aí de repente não há condições para se desenvolver o turismo que se pretende.
Nem mais Tidi! Estamos a tempo de re-orientar e ter um turismo integrado e catalisador do nosso desenvolvimento...
Abraço
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