Com o lançamento, pela Cesária Évora do seu mais recente CD, Rádio Mindelo – este não de originais mas sim de velhos sucessos mindelenses dos anos 50/60 - um foco especial de luz recaiu sobre esse trovador da época: Ti Goy.
Gregório Gonçalves, mais conhecido por
Ti Goy, na realidade, escreveu uma parte importante da nossa música e teatro da época, marcando a história cultural de Mindelo e de Cabo Verde, sobretudo na côr e novo estilo que deu à nossa coladera.
Ti Goy nasceu aqui no Mindelo, no ano de 1921. Na época em que o ‘
Lombo’ era uma espécie de
pulmão da cidade.
Menino de Lombo que enchia as noites do seu bairro com o som do seu violão e captava as mais sórdidas situações ‘coladeráveis’… na maior parte das vezes ‘colhidas’ nos bares populares e bem concorridos da época de muito movimento no Porto Grande e de muitos marinheiros do mundo nas noites mindelenses…
Autor, compositor e intérprete, Ti Goy tinha o seu próprio conjunto, o BeniTómica, onde pr’além da guitarra, também tocava ‘jazz’ como se chamava na altura a bateria, aqui no país. BeniTómica que o acompanhava na escrita musical desse período, com actuações em bailes por bares e festas privadas, mas também nas nascentes rádios do Mindelo - Rádio Club Mindelo e Rádio Barlavento.
Ti Goy, homem de mil e uma actividades e conhecido pelo seu humor constante, acabou por ser uma figura marcante da sua cidade, pois por ela se tornou mesmo, num autêntico animador cultural.
Também movimentou o teatro, escrevendo e encenando ‘sketches’ sarcásticos e bem-humorados; sentiu-se impulsionado ainda, a se ligar a essa manifestação de massas bem enraizada na ilha - o Carnaval – ‘queimando pestanas’ à frente do seu Bloco Lombiano; até o futebol lhe sugou energias, dando o litro pelo seu Derby.
Conhecia como ninguém, a vida, os temores, as fofocas, as estórias, os medos, as ruas, travessas… e as gentes do Mindelo… que ficaram retratadas nas suas composições. Pelo seu humanismo, e acima de tudo pelo seu amor à cultura e à terra, também faz o papel de produtor de jovens artistas: casos vários de que se destaca a Cize, Travadinha, ou a Fantcha.
Ti Goy compôs várias dezenas de coladeras – pois era o rei da coladera! – com um ritmo pessoal, em coladeras um pouco mais lentos que os habituais da época.
Ainda um jovem jornalista da rádio, lembro-me das desculpas dele em relação a entrevistas para a RNCV: “Ná Tchá, mi entrevista ê sô escrit… kê um ka krê pa tud gent pô ta gozá k’ês nha vuginha esganisód, na rádie!”, referindo-se humoradamente à voz de falsete que tinha.
Ti Goy morreu, já um pouco afastado e esquecido pela sociedade mindelense, em 1991.
Pelas coladeras da sua autoria… fica com uma ideia mais precisa da importância desse pequeno grande da nossa música: Nutridinha, Sabine Largam, Nho Antone Escaderod, Rabonhe, Golosa, Saiko Dayo, Canetada, Vaquinha Mansa, Juvita de Praça, Saia Travada, Pé di Boi, Amor de Fantasia, Cinturão Tem Mel, Corveta, Sardinha de Ribeira Bote, Terezinha, Ingrata… e muitas outras…