Nesta minha vida de ‘piratinha’, aprendi muitas e muitas coisas, que não sabia antes da minha mãe morrer. Tinha a ideia de que ninguém nesta terra, era simpático, feliz, contente, amigo… porque estava habituado a ouvir de todos a quem esticava o braço a pedir dinheiro, ajuda, ou outras coisas para levar para a minha mãe… a mesmíssima resposta:
‘Não tem nada! Outro dia! Vai dar uma volta! Vai para casa! Deixa-me em paz! Vai chatear outro! Não dou, não dou e não dou, vagabundo!’
Eu vivia bem triste, com a minha mãe doente e também triste porque abandonada pelo meu pai… Muitas vezes, até me parecia que eu e a minha mãe não éramos filhos de Deus. Aliás Deus nunca respondia aos pedidos da minha mãe, pelo que eu fui mandado tentar nas ruas.
Poucos davam-me alguma coisa para levar para casa. Uns cinco escudinhos – na maior parte das vezes –, um pedaço de pão… e nada mais. Ah, mas não me esqueço daquela senhora ‘de fora’ que me deu esta camisola bem bonita que, muitos anos depois, continuo a vestir… Quanto ao grosso das pessoas, nada! Nada, e ainda por cima… de cara mau.
Mas agora não. As coisas mudaram… ou melhor, mudei as coisas! Porque entretanto aprendi coisas que a minha mãe não me ensinara. Agora tenho tudo o quero. É só ver e pedir das pessoas. Aos poucos fui descobrindo que tudo o que é metal – quanto mais pontiagudo melhor - modifica a simpatia das pessoas.
Eu adoro ver a generosidade a nascer nas pessoas – posso dizer que acontece na hora – à minha frente. Já o presenciei muitas vezes e sei como se passa: o aço deve ter também essa qualidade junto das pessoas, e aposto que a minha mãe não sabia, pois passámos muito tempo sem nada, lá em casa. Nunca me esqueço da ‘magia da divisão’ que ela sempre conseguia… à base da regra de ouro da minha avó: ‘Quem come e guarda… arma a mesa duas vezes.’ Ah, se soubesse desta outra magia antes! Porque passávamos um bocado de fome naquela casa de lata. Ela doente, e eu inocente. Mas agora não. Eu queria ter descoberto antes, porque assim a minha Manh’Ana estaria ainda comigo, de certeza... a minha mãe ainda estaria viva.
Agora sou esperto. Aprendi essa magia. É simples. Chego junto dum antipático qualquer que vem na minha direcção, digo ‘amigo um vinte escudinho para matar a fome’. Ele nem se dá à canseira de olhar para mim, ao mesmo tempo que deixa sair, desinteressadamente: Nada! Não há nada! Ao que respondo com uma segunda abordagem, já por trás… e a coisa muda logo de figura quando lhe apresento o metal. Aí peço relógio, carteira, móvel, cordão, tudo dele que eu quiser, e a generosidade é imensa. Dá-me tudo na hora, sem resmungar, sem dizer que não tem nada. Torna-se ‘coração de manteiga’, generoso… adoro! Só que continua com aquela cara mau de antipático, e vai-se embora, cheio de pressa. Manh’Ana devia estar viva para ver como o seu filhinho aprendeu coisas…
‘Não tem nada! Outro dia! Vai dar uma volta! Vai para casa! Deixa-me em paz! Vai chatear outro! Não dou, não dou e não dou, vagabundo!’
Eu vivia bem triste, com a minha mãe doente e também triste porque abandonada pelo meu pai… Muitas vezes, até me parecia que eu e a minha mãe não éramos filhos de Deus. Aliás Deus nunca respondia aos pedidos da minha mãe, pelo que eu fui mandado tentar nas ruas.
Poucos davam-me alguma coisa para levar para casa. Uns cinco escudinhos – na maior parte das vezes –, um pedaço de pão… e nada mais. Ah, mas não me esqueço daquela senhora ‘de fora’ que me deu esta camisola bem bonita que, muitos anos depois, continuo a vestir… Quanto ao grosso das pessoas, nada! Nada, e ainda por cima… de cara mau.
Mas agora não. As coisas mudaram… ou melhor, mudei as coisas! Porque entretanto aprendi coisas que a minha mãe não me ensinara. Agora tenho tudo o quero. É só ver e pedir das pessoas. Aos poucos fui descobrindo que tudo o que é metal – quanto mais pontiagudo melhor - modifica a simpatia das pessoas.
Eu adoro ver a generosidade a nascer nas pessoas – posso dizer que acontece na hora – à minha frente. Já o presenciei muitas vezes e sei como se passa: o aço deve ter também essa qualidade junto das pessoas, e aposto que a minha mãe não sabia, pois passámos muito tempo sem nada, lá em casa. Nunca me esqueço da ‘magia da divisão’ que ela sempre conseguia… à base da regra de ouro da minha avó: ‘Quem come e guarda… arma a mesa duas vezes.’ Ah, se soubesse desta outra magia antes! Porque passávamos um bocado de fome naquela casa de lata. Ela doente, e eu inocente. Mas agora não. Eu queria ter descoberto antes, porque assim a minha Manh’Ana estaria ainda comigo, de certeza... a minha mãe ainda estaria viva.
Agora sou esperto. Aprendi essa magia. É simples. Chego junto dum antipático qualquer que vem na minha direcção, digo ‘amigo um vinte escudinho para matar a fome’. Ele nem se dá à canseira de olhar para mim, ao mesmo tempo que deixa sair, desinteressadamente: Nada! Não há nada! Ao que respondo com uma segunda abordagem, já por trás… e a coisa muda logo de figura quando lhe apresento o metal. Aí peço relógio, carteira, móvel, cordão, tudo dele que eu quiser, e a generosidade é imensa. Dá-me tudo na hora, sem resmungar, sem dizer que não tem nada. Torna-se ‘coração de manteiga’, generoso… adoro! Só que continua com aquela cara mau de antipático, e vai-se embora, cheio de pressa. Manh’Ana devia estar viva para ver como o seu filhinho aprendeu coisas…
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