terça-feira, janeiro 13, 2009

13 de Janeiro - Liberdades...

Pedro Pinto


Teatrakácia…
(Editorial)
um espaço onde possa falar do amor pelas Artes e pelo Teatro em particular…
pelo amor por estas Ilhas que continuam a ser ‘madrastas’ para a maioria esmagadora dos seus filhos…
aos poucos, (porque não?) tentar acompanhar e fazer parte da blogosfera creoula e… tentar exercer esse direito que o ‘berdiano’ também deve ter no concerto das nações modernas e democráticas…
lutar para que, cada vez mais se solidifiquem as liberdades todas nestas Ilhas Afortunadas (afortunadas aqui mais no sentido da negação de fortunas = materiais...).

E nada como o exercício, para criar e montar e construir esse hábito que, infelizmente, ainda não é uma ‘instituição’ no país.
Na Lei-mãe elas existem… só que as mães ainda não as ensinam/passam de forma científica… (o passado mais ou menos recente, ainda está muito fresco), a cultura ainda não a adoptou e muito menos sedimentou…
O direito de todos à livre expressão – com respeito devido ao outro que, naturalmente pode e deve discordar… - é um desiderato que ainda, em termos colectivos e de sociedade civil, está bem longe…
O direito à crítica aos poderes instituídos… sem ser engolido pelas máquinas ‘trituradoras’ partidárias…
E o direito à livre expressão de ideias mesmo que disparatadas… (este direito então, estará muito mais longe!)
É que, a blogosfera cabo-verdiana pode ser – é desejo meu, com o tempo - uma forma de ‘exercício mais ou menos colectivo’ de escrever aprendendo a colocar e assumir ideias/críticas/merdas/preciosidades outras que não as habituais ‘cenas do finge-opinar’, com esboços de argumentos minuciosamente medidos pela auto-censura… desaguando no ‘politicamente correcto’ dos pseudo-críticos e da ‘manada’ que será aquela camada que pulula à volta dos políticos, dos cargos mil, e dos negócios…
Enfim, mil e uma formas outras de dizer e de pensar o país, a actualidade, os problemas da terrinha… que habitualmente não cabem ou não interessam aos editoriais mais ou menos comprometidos dos órgãos de comunicação social existentes…
As ideias, os debates, os sonhos, as críticas, estapafúrdios e ‘non-senses’ da blogosfera são o que são… não representam nada… mas juntos tentam remar contra a maré… e um dia terão outro peso…
Por enquanto são vários ‘espaço meu, individual e tão livre quanto possível’. E poucos são um pouco mais, pois incluem no seu seio ‘vozes mil outras’ desta sociedade civil que teima em não existir como tal…
Pedro Pinto

A propósito, retomo esta frase que deixei em género de comentário, há dias, no Café Margoso: ‘Liberdade de expressão! Sou até capaz de morrer por isso… Mas vendo bem as coisas neste sec.XXI... onde quase tudo e todos foram 'levados' à força (quase) para a Democracia e as Liberdades totais... dizia, analisando bem, nas democracias, as liberdades são um pouco como... liberdade para 'brincar', 'exprimir à vontade'... mandar as bocas todas... mas na hora de 'decidir e mandar mesmo'... DECIDEM E MANDAM os poderes... e só contam os que contam...
Os 'badamecos' têm a liberdade de discordar, reclamar, blogar como quiserem... mas... os que contam não estão nem aí para os 'meninos' e decidem e fazem o que acham que devem e como devem...
Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência?!

E agora ocorre-me esta situação pensada e escrita por Luis Fernando Veríssimo, que é sintomática, e diz tudo sobre a forma como os poderes se protegem e dividem entre si as riquezas do país:

“Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D- Delegado L - Ladrão

D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
L - Não era para mim não. Era para vender.
D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
L - Mas eu vendia mais caro.
D - Mais caro?
L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.
L - Os ovos das minhas eu pintava.
D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)
D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio.
D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?
L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada.
Depois perguntou:
D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
L - Às vezes. Sabe como é.
D - Não sei não, excelência. Me explique.
L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.
D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...

Já dá para ‘ver o filme’…
Enquanto situações dessas acontecem no país, não há razão para celebração de liberdades, nem para júbilo com PDM, para derreter em felicidades… não se consegue respeito pela Justiça e sobretudo, reconhecimento para a política e os políticos.

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