terça-feira, junho 01, 2010

Ben Kingsley - entrevista



Um actor extraordinário!

Bem Kingsley marcou-me desde o primeiro contacto – via grande ecrã, claro! – e se tornou para mim num dos meus actores preferidos. À medida das possibilidades de um residente num país do ‘resto do Mundo’, fui acompanhando os trabalhos do excelente intérprete… e gostando, cada vez mais!

Aqui em Teatrakácia, com a devida vénia, repomos esta excelente entrevista concedida a Paulo Portugal (in i):

Ben Kingsley: "Vou adaptar o 'Primo Basílio'. É magnífico"

por Paulo Portugal,

Depois de "Príncipe da Pérsia", que estreou a 27 de Maio passado, o actor inglês vai dedicar-se ao romance de Eça de Queirós. Faça-se uma vénia, porque estamos a falar com um cavaleiro

Nas entrevistas, Ben Kingsley está como peixe na água. É o seu meio. Gosta de ser o centro das atenções. Meticuloso e ponderado, Ben é um dos actores britânicos mais disciplinados.

Krishna Pandit Bhanji nasceu no último dia do ano de 1943, na pequena cidade de Snainton, no Yorkshire, filho de um médico e de uma actriz e modelo. No final dos anos 70 viria a ocidentalizar o nome, quando já beneficiava de algum prestígio como actor de teatro e televisão. Em 1982 espantou o mundo com a interpretação de Gandhi, que lhe valeu um Óscar.

Em invejável forma aos 67 anos, Sir Ben tem uma impressionante lista de projectos em diversas fases de produção, não só como actor, mas também como produtor. Desde logo o épico "Taj", em que participa com a mulher, a brasileira Daniela Lavender, de 36 anos, sobre o Taj Mahal. Além disso, vai produzir a mini-série "O Primo Basílio", adaptando o romance de Eça de Queirós. Em "O Príncipe da Pérsia", dirigido pelo britânico Mike Newell, Kingsley é Nizam, no papel mais sério da fita. Impecavelmente vestido, de roupa de malha justa a acentuar a excelente forma física, com o crânio luzidio e pêra rala, Ben Kingsley apresenta-se sorridente e hirto à porta da suíte do hotel Excelsior, em Londres. A hora é dele.

Continua em grande forma. Percebe- -se que se preocupa com o bem-estar. O que faz para manter a forma?

Obrigado... Bom, como tenho piscina em casa, costumo dar umas braçadas todos os dias. Também faço alguns pesos. Mas não sou nada obcecado com o ginásio.

É vasta a lista de projectos em que deverá participar nos próximos tempos. Percebe-se que está ocupado....

Tem razão, alem do trabalho de actor, estou também a produzir. E isso dá bastante trabalho. E ainda vou entrar em três dos quatro filmes que produzirei.

Como foi filmar "O Príncipe da Pérsia" no escaldante deserto de Marrocos?

Sabe, eu tenho uma óptima relação com os realizadores. Há muitos realizadores que têm uma boa relação com os actores, mas eu sou o contrário. Estou muito habituado a ensaios, pois sou um actor shakespeariano. O Mike Newell percebeu isso depressa. O Nazin não é uma personagem tridimensional, está consumido com ambição e inveja do príncipe. Isso é um passaporte para as emoções.

Percebe-se que gosta de encontrar Shakespeare no seu trabalho.

Gosto sim senhor, porque ele é grande. Se pudermos fundir as personagens de certeza que encontramos o nosso caminho. Por exemplo, no "Sexy Beast" fui Iago, em "Shutter Island" seria Próspero, da "Tempestade". Há uma combinação de amor incondicional temperada pelo desejo de curar o seu paciente. 

E como foi a experiência de trabalhar com Martin Scorsese?

Estou quase a começar o meu novo filme com ele ("The Invention of Hugo Cabret"). Estou entusiasmado! Ele é um homem extraordinário. Faz filmes com amor, adora os actores. É um acto de amor que pode por vezes ser duro, mas não deixa de ser um acto de amor.

Já lhe ouvi dizer que gosta de trabalhar com actores jovens. É algo que se aplica a este projecto com Jake Gyllenhaal?

Very much so. O Jake tem um sotaque londrino tão imaculado que quase lhe posso dizer que colégio frequentou e em que rua mora no Noroeste de Londres. É um rapaz de classe média. Tem uma interpretação muito confiante. 

De certa forma, em "Shutter Island" também não sabemos bem se a sua personagem é positiva ou um vilão. 

O Dr. Cawley torna-se extremamente positivo, sobretudo quando temos um realizador que usa a câmara para revelar essa personagem. Acho isso mágico. 

Como definiria o seu estilo?

Não defino. Mas nesse filme é espécie de aprendizagem pela imobilidade. Deixe- -me contar um exercício que fiz com alunos de representação nos Estados Unidos. Todos estavam na sala, menos um, que se tinha atrasado. E eu sugeri-lhes que fizéssemos um acordo: "A próxima pessoa que entrar por aquele porta será um tipo completamente louco." E pouco depois lá entra o aluno, que começa por justificar o atraso. Mas perante as nossas reacções começa a ficar embaraçado. É que tudo estava pré-condicionado. Foi um exercício fascinante. 

É verdade que irá trabalhar em breve com a sua mulher (a brasileira Daniela Lavender)?

Sim, espero que sim. Não colaborei muito com ela quando estava a preparar o seu trabalho como Titânia, no "Sonho de Uma Noite de Verão", mas a Daniela foi magnífica. Iremos, espero eu, trabalhar juntos, em três dos filmes que irei produzir.

Em "Taj"?

Sim, em "Taj", mas entrará também em "O Primo Basílio", baseado na obra do português Eça de Queirós, uma mini- -série que vou produzir.

Conhece o livro?

É magnífico! Soberbo nas descrições burguesas. E Daniela entrará ainda numa outra adaptação de Shakespeare, mas que ainda não está confirmada.

E o seu português já evoluiu mais de uma palavra?

Receio bem que não... A Daniela fala um inglês imaculado. É claro que já fomos os dois ao Brasil, mas a família dela também fala bem inglês, por isso acho que o meu português não teve possibilidade de evoluir.

Como vê a eleição do novo primeiro- -ministro britânico? 

Curiosamente, como moro muito perto do David Cameron, quando fui votar os paparazzi pensavam que era ele no carro. Mas quando me viram disseram: "Não é o Cameron, é aquele actor, o Ben." Mas é uma eleição muito importante e é crucial para mostrar como nos revemos com a nossa cultura, a nossa língua e a responsabilidade com a comunidade internacional. Estão a passar-se muitas coisas e estamos sem dinheiro.

Qual é a sua relação actual com a Índia [o actor tem ascendência indiana]?

Tenho uma relação muito sentimental com a Índia. Tenho uma enorme afecto por aquele gente. É uma economia muito pujante, mas também com muito por fazer.

Acha que Sir Ben poderá ajudar nesse sentido?

Acho que já ajudei, com "Gandhi", e tornei o mundo mais atento a essa personagem, mas irei também fazer filmes que injectem algo da minha personalidade na cultura deles. É o que sucederá, espero, com "Taj".

Um comentário:

Joshua disse...

Não fazia ideia da ascendência dele!
Isto só prova que tenho mesmo que ver menos o Panda e o Disney Chanell.
:-)