Um 2008 desastroso terá servido como 'desculpa' para a decisão da Jovem Chinesa... a de deixar os cibernautas decidirem o seu dia-a-dia... A troco de dinheiro, claro!!!
Chen Xiao
"Cada vez que eu tinha um plano para a minha vida, nada dava certo. Era desapontante. Pensei que se as outras pessoas me arranjassem coisas para fazer, podia ser que aparecesse algo novo e melhor".
Foi esta justificação que a jovem Chen Xiao deu à CNN para a insólita decisão de colocar a sua vida literalmente à venda, num site de leilões da China.
Desde Dezembro, Chen Xiao deixa que sejam os outros a decidir o que faz em cada dia: Por cerca de 3 dólares à hora, já entregou comida para animais, já cuidou de gatos abandonados, já levou comida quente a um sem-abrigo e, espante-se, até já assistiu a um parto, porque o pai queria alguém para fotografar o momento.
A jovem chinesa alega que teve um 2008 desastroso: A sua cidade foi atingida por um nevão, o seu país sofreu os efeitos de um sismo devastador, amigos divorciaram-se e a sua loja de roupa declarou falência...
Como limites para o que aceita fazer, Chen Xiao coloca apenas a ilegaldiade, imoralidade ou violência.
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Morna... e beleza das crioulas
Força di Cretcheu
Ca tem nada na es bida
Más grande que amor
Se Deus ca tem medida
Amor inda ê maior
Maior que mar, que céu
Mas, entre tudo cretcheu
De meu inda é maior.
Cretcheu más sabe,
É quel que é di meu
Ele é que é tchabe
Que abrim nha céu.
Cretcheu más sabe
É quel qui crem
Ai sim perdel
Morte dja bem.
Ó força de chetcheu,
Que abrim nha asa em flôr
Dixam bá alcança céu
Pa’n bá odja
Nôs Senhor.
Pa’n bá pedil semente
De amor cuma ês di meu
Pa’n bem dá tudo djente
Pa tudo bá conché céu.
Eugénio Tavares
É do Claridoso Manuel Lopes esta definição do poeta na sua forma de ser e estar... sobretudo na hora de compôr as mornas eternas:
« Eugénio desaprecia as formalidades e a pragmática. É homem da intimidade, dos ditos que sabem a mel. Uma graça contagiosa. Alegria sob a qual flutua uma tristeza orgânica; mas nele tudo é expontâneo e sincero. Nem ambições, nem grandezas, nem exibicionismo: moderação.
Eugénio compunha as suas mornas entre raparigas e rapazes. Espírito novo, côr-de-rosa, Eugénio era um inverno primaveril, sem neve, mas com flôres e sol. Na verdade costuma dizer-se, os poetas não envelhecem. Compunha as suas mornas entre a alegria e o Sol da mocidade. A Brava é a terra de raparigas e flôres, as flôres e as raparigas mais bonitas de Cabo Verde. Era ali entre tão belos modelos, que vivia e cantava o belo poeta, o velho-môço sultão.»
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Violência com base no Género... Basta!!!
Sei. Sabemos todos. Sabemos que é algo que acontece frequentemente nas nossas Ilhas. Que não devia acontecer, também todos sabem. O véu (aliás o manto) do silêncio tem sido a razão pela qual não se tem conhecimento da maior parte da violência entre-paredes – aquela violência baseada no género . Aqui, é preciso reconhecê-lo, a Família é a promotora-mor desse manto de silêncio. Reproduz-se a cultura do ‘entre marido e mulher não se mete a colher’… ‘em casa, entre homem e mulher, tudo se arranja, tudo se esconde – a bem da própria família’. Para se evitar escândalos, deve a mulher ‘achatar a alma’! Chama-se de conflito conjugal e ninguém leva a mal. Nem mesmo a própria Justiça que a trata de forma condescendente, não a considerando de violência…
Há-que trabalhar mais, cerrar fileiras em todos os sectores, e lutar para a erradicação desse hábito horrendo. Um hábito que nos acompanha mesmo em países de acolhimento da nossa emigração… e que tem sido nalguns deles – após estatísticas denunciadoras - motivo de campanhas especiais junto dos nossos compatriotas. Porquê? Amar e compartilhar a vida… é, e deve ser, por comum acordo! Se não corre bem… se não dá, não dá! A violência não resolve. Antes pelo contrário.
Há-que trabalhar mais, cerrar fileiras em todos os sectores, e lutar para a erradicação desse hábito horrendo. Um hábito que nos acompanha mesmo em países de acolhimento da nossa emigração… e que tem sido nalguns deles – após estatísticas denunciadoras - motivo de campanhas especiais junto dos nossos compatriotas. Porquê? Amar e compartilhar a vida… é, e deve ser, por comum acordo! Se não corre bem… se não dá, não dá! A violência não resolve. Antes pelo contrário.
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
(IN)SEGURANÇA
(A harmonia à volta do trabalho)
A insegurança que tem tomado conta das (outrora) ‘Ilhas da Morabeza’ nos últimos anos, é já um assunto recorrente, mas nunca é demais retomá-lo, pois continua sem soluções mais ou menos duradoiras. E mais, não se vislumbra ainda sequer, que se tenha eleito o tema como sendo Tarefa Prioritária, ou no mínimo, decidido que é um problema nacional que clama por medidas urgentes e um projecto-programa dotado de investimentos e ideias concretas de procura de soluções a serem implementadas.
E só de pensar na sua imposição no dia-a-dia do cabo-verdiano ainda não preparado para esses novos tempos… faz-nos, sem querer, viajar no tempo – nem precisamos descer muitos anos – chegar de novo aos tempos em que se podia até dormir com as janelas e portas abertas, porque a única preocupação era com o vento… ou num determinado período, com os representantes armados da Metrópole.
Impensável hoje, mas um hábito salutar de antanho, o de andar a pé, desfrutar das noites de luar ou não, depois de festas/encontros em que parte fosse da cidade e arredores, aqui no Mindelo ou na Praia, para nem sequer referir a segurança e pacatez de outras ilhas ou ribeiras, vales, becos e bairros… que felicidade, que segurança, que qualidade de vida! A era da morabeza crioula no seu esplendor!
Hoje… um Tchá di Rua Korvu a deambular pelo Plateau, descendo pela rampa de Ponta Belém, Taiti, Avenida Cidade de Lisboa, Rampa de Terra Branca, mais adiante e após a rotunda a entrada na Achada pelo Di Nôs, Meio da Achada, em plena madrugada… já não será mais, sequer, pensável. As pessoas ripostam que os tempos são outros. E são, mesmo! Mas criou mesmo uma certa paranóia…a ponto de me quererem dar boleia nas noites hodiernas, imagine-se, no percurso de um Poeta até um hotel a pouco mais de cem metros adiante…
Naturalmente que o fenómeno emerge de problemas sociais não resolvidos e, antes pelo contrário, deixados engrossar e fermentar ao longo dos anos, até chegar a extremos de completa perda de valores. Porque, para nós, se trata sobretudo, de uma má gestão e fixação/reprodução dos valores pessoais e culturais de cada um e de todos, na Nação cabo-verdiana, com a Família no epicentro… mas com a classe política como catalisadora dos desajustes, que desaguam numa injusta distribuição dos parcos recursos e oportunidades de vida ou apenas sobrevivência.
O próprio conceito de Liberdade não entendido e reproduzido na sociedade de forma enviesada – preterindo a parte que garante a liberdade dos outros, como limite… - terá contribuído e muito para a perda de valores fundamentais como o respeito, a amizade, o amor… que abrem portas, sobretudo à violência e banditismos atentadores ao valor máximo Vida.
(In)Segurança. Tem sido um tema recorrente, periodicamente muito falado e no centro das atenções, mas não encarado com a devida urgência. Situação diagnosticada mas não encarada com a energia e meios necessários, com o seu crescente degradar, a tal ponto que hoje o Governo perdeu a capacidade de poder garantir a segurança para a sociedade cabo-verdiana. Falar de segurança hoje, é quase que algo surreal, pois o conceito de segurança, sobretudo nos centros populacionais, ou d’alguma movimentação económica – estamos a falar da Praia, Mindelo, Assomada, Sal, Boavista - é algo quase utópico e irreal. A insegurança leva ao medo que, de tão crescente, quase que entrega as ruas aos bandidos que ameaçam, pois continuam soltos e impunes. Ainda esta noite, aqui no Mindelo - contrariamente ao que é habitual em período de festas em que os meliantes quase que entram de férias – houve sessão de banditismo em plena via pública, à volta da Praça Nova, com desacatos e arremesso de pedras contra a Polícia, com alguns agentes a ficarem feridos. ‘Police and thieves in the street’… insegurança a reinar! As pessoas de bem fogem, auto-prendem-se em casas cada vez mais parecidas com prisões… pois de todas as nossas necessidades básicas – incompreensivelmente - a segurança é aquela que mais tem sido esquecida, chegando-se ao extremo de não haver mais espaço para uma vida em comunidade.
Apraz-nos realçar a preparação de propostas de mexidas a nível da revisão da Constituição nesta matéria, com o objectivo de canalizar recursos e forças (mesmo que tornando possível o contributo das nossas FA’s) para essa luta.
Mas os maiores meios e energias devem convergir, parece-nos, para a prevenção nos dois sentidos dessa palavra, neste enfrentar da maior ameaça à sociedade cabo-verdiana: Prevenção na acção policial por um lado, e mais e maior prevenção, sobretudo, na implementação e prática de políticas no âmbito desse pilar da justiça social… que irá repôr a equidade social na nossa sociedade. Afinal a base do equilíbrio de qualquer sociedade.
- Ver mais, e outros ângulos sobre o mesmo tema, abaixo:
E só de pensar na sua imposição no dia-a-dia do cabo-verdiano ainda não preparado para esses novos tempos… faz-nos, sem querer, viajar no tempo – nem precisamos descer muitos anos – chegar de novo aos tempos em que se podia até dormir com as janelas e portas abertas, porque a única preocupação era com o vento… ou num determinado período, com os representantes armados da Metrópole.
Impensável hoje, mas um hábito salutar de antanho, o de andar a pé, desfrutar das noites de luar ou não, depois de festas/encontros em que parte fosse da cidade e arredores, aqui no Mindelo ou na Praia, para nem sequer referir a segurança e pacatez de outras ilhas ou ribeiras, vales, becos e bairros… que felicidade, que segurança, que qualidade de vida! A era da morabeza crioula no seu esplendor!
Hoje… um Tchá di Rua Korvu a deambular pelo Plateau, descendo pela rampa de Ponta Belém, Taiti, Avenida Cidade de Lisboa, Rampa de Terra Branca, mais adiante e após a rotunda a entrada na Achada pelo Di Nôs, Meio da Achada, em plena madrugada… já não será mais, sequer, pensável. As pessoas ripostam que os tempos são outros. E são, mesmo! Mas criou mesmo uma certa paranóia…a ponto de me quererem dar boleia nas noites hodiernas, imagine-se, no percurso de um Poeta até um hotel a pouco mais de cem metros adiante…
Naturalmente que o fenómeno emerge de problemas sociais não resolvidos e, antes pelo contrário, deixados engrossar e fermentar ao longo dos anos, até chegar a extremos de completa perda de valores. Porque, para nós, se trata sobretudo, de uma má gestão e fixação/reprodução dos valores pessoais e culturais de cada um e de todos, na Nação cabo-verdiana, com a Família no epicentro… mas com a classe política como catalisadora dos desajustes, que desaguam numa injusta distribuição dos parcos recursos e oportunidades de vida ou apenas sobrevivência.
O próprio conceito de Liberdade não entendido e reproduzido na sociedade de forma enviesada – preterindo a parte que garante a liberdade dos outros, como limite… - terá contribuído e muito para a perda de valores fundamentais como o respeito, a amizade, o amor… que abrem portas, sobretudo à violência e banditismos atentadores ao valor máximo Vida.
(In)Segurança. Tem sido um tema recorrente, periodicamente muito falado e no centro das atenções, mas não encarado com a devida urgência. Situação diagnosticada mas não encarada com a energia e meios necessários, com o seu crescente degradar, a tal ponto que hoje o Governo perdeu a capacidade de poder garantir a segurança para a sociedade cabo-verdiana. Falar de segurança hoje, é quase que algo surreal, pois o conceito de segurança, sobretudo nos centros populacionais, ou d’alguma movimentação económica – estamos a falar da Praia, Mindelo, Assomada, Sal, Boavista - é algo quase utópico e irreal. A insegurança leva ao medo que, de tão crescente, quase que entrega as ruas aos bandidos que ameaçam, pois continuam soltos e impunes. Ainda esta noite, aqui no Mindelo - contrariamente ao que é habitual em período de festas em que os meliantes quase que entram de férias – houve sessão de banditismo em plena via pública, à volta da Praça Nova, com desacatos e arremesso de pedras contra a Polícia, com alguns agentes a ficarem feridos. ‘Police and thieves in the street’… insegurança a reinar! As pessoas de bem fogem, auto-prendem-se em casas cada vez mais parecidas com prisões… pois de todas as nossas necessidades básicas – incompreensivelmente - a segurança é aquela que mais tem sido esquecida, chegando-se ao extremo de não haver mais espaço para uma vida em comunidade.
Apraz-nos realçar a preparação de propostas de mexidas a nível da revisão da Constituição nesta matéria, com o objectivo de canalizar recursos e forças (mesmo que tornando possível o contributo das nossas FA’s) para essa luta.
Mas os maiores meios e energias devem convergir, parece-nos, para a prevenção nos dois sentidos dessa palavra, neste enfrentar da maior ameaça à sociedade cabo-verdiana: Prevenção na acção policial por um lado, e mais e maior prevenção, sobretudo, na implementação e prática de políticas no âmbito desse pilar da justiça social… que irá repôr a equidade social na nossa sociedade. Afinal a base do equilíbrio de qualquer sociedade.
- Ver mais, e outros ângulos sobre o mesmo tema, abaixo:
sábado, fevereiro 21, 2009
Dia Internasional d'linga matérna
Há muito que, por motivos vários que vão desde a ideia de emancipação dos anos 70 do século passado... até à necessidade de adaptação de ‘clássicos’ para o kriol, me fui aventurando, junto de outros colegas, na tentativa de escrita na nossa língua materna. E logo deparei com o problema que ainda hoje se mantém, de alguma dificuldade em compreender o que outros escreveram… simplesmente porque cada um escrevia consoante o seu “feeling”.
Faltava o que o Alupec propõe: as ferramentas para uma standardisação da escrita da nossa língua materna. Uma língua que está bem viva! Pois está na nossa vida de uma forma quase que omni-presente... Desde o sonho até ao comunicar do mais pequeno pormenor das nossas vidas íntimas…
O que falta, de facto, é a assumpção descomplexada da sua escrita – standartisada - com os rigores de uma língua viva e estudada cientificamente. Aqui é que acho que há todo um caminho pela frente. A aprendizagem e habituação de todos, à sua escrita. O seu estudo desde tenra idade, nas escolas primárias… mas a partir de um estudo que desagua numa introdução planificada e programada, de acordo com as idades.
A nossa língua materna – a língua cabo-verdiana – precisa no entanto que todos, e sem complexos e preconceitos de que ordem fôr, a assumam nessa fase da sua evolução para uma escrita unificada. Esquecer falsas questões desviantes que pululam à volta das variantes que, estou certo, não estarão em questão, antes pelo contrário, terão que ser respeitadas para o bem da língua cabo-verdiana.
Como já dizia num comentário de um dos debates à volta deste alfabeto cabo-verdiano… “E agora, quanto a mim, é as pessoas o adoptarem nas experiências de escrita na língua nacional, respeitando as variantes de cada ilha. A começar, por um lado, pelos escritores, e por outro, nas escolas...”
Barlaventando a escrita Alupec, e convergindo com o blog “Igualdade na Diferença” nos seus exemplos… aqui vão alguns exemplos:
kretxeu, amdjer, mdjeróna, flisidad, txon, midje, azága, txuva, arkipélg, sentód, afrikane, dret, bnite, fidje, etc
Que seja o início de uma nova era da nossa língua cabo-verdiana!
O que falta, de facto, é a assumpção descomplexada da sua escrita – standartisada - com os rigores de uma língua viva e estudada cientificamente. Aqui é que acho que há todo um caminho pela frente. A aprendizagem e habituação de todos, à sua escrita. O seu estudo desde tenra idade, nas escolas primárias… mas a partir de um estudo que desagua numa introdução planificada e programada, de acordo com as idades.
A nossa língua materna – a língua cabo-verdiana – precisa no entanto que todos, e sem complexos e preconceitos de que ordem fôr, a assumam nessa fase da sua evolução para uma escrita unificada. Esquecer falsas questões desviantes que pululam à volta das variantes que, estou certo, não estarão em questão, antes pelo contrário, terão que ser respeitadas para o bem da língua cabo-verdiana.
Como já dizia num comentário de um dos debates à volta deste alfabeto cabo-verdiano… “E agora, quanto a mim, é as pessoas o adoptarem nas experiências de escrita na língua nacional, respeitando as variantes de cada ilha. A começar, por um lado, pelos escritores, e por outro, nas escolas...”
Barlaventando a escrita Alupec, e convergindo com o blog “Igualdade na Diferença” nos seus exemplos… aqui vão alguns exemplos:
kretxeu, amdjer, mdjeróna, flisidad, txon, midje, azága, txuva, arkipélg, sentód, afrikane, dret, bnite, fidje, etc
Que seja o início de uma nova era da nossa língua cabo-verdiana!
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Cabo Verde Turístico
(foto: Hellio Vaninger)
Um turismo em que os nossos visitantes – turistas especiais – virão para ver, conhecer, conviver, e não sugar/destruir (como parece ser o caso construção, em zona marinha protegida, da Marina da Murdeira…) mas para desfrutar/apreciar isto que temos de diferente, e manifestamente queremos continuar a ter:
Paisagens desérticas e lunáticas, tingidas do castanho seco e ‘destorrado’, vulcões activos ou não, praias de areias brancas ou negras que desaguam em aguas límpidas de um mar arco-íris de azuis mil, uma bela arquitectura nascida dos tempos de colónia portuguesa num S.Nicolau ou numa S.Vicente caldeirão de misturas culturais, de um Santo Antão de montanhas de tirar fôlego até a uma bela Brava perdida na neblina, passando pelo fogo do Vulcão do Fogo, quinhentos anos de história e cultura nascidas no berço de Santiago, num clima quente e ensolarado… com praias paradisíacas particularmente no Maio, Boavista e no Sal, sem esquecer uma misteriosa e bela Santa Luzia.
Enfim um caleidoscópio de ambientes e paisagens que queremos continuar a ter… - a que poderemos juntar a música e mais manifestações culturais seculares (que Cabo Verde e o seu povo têm…) - e que poderão continuar a ser descobertos por aquele Turista que vale à pena.
E isso tudo, depois de termos a consciência de que é preciso estudar, criar, preparar e organizar para que o turista tenha, de facto, umas férias cem por cento made in cabo verde.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
Cabo VerDôr
Os homens e mulheres, escravos ou não…
Mais tarde transformados em cabo-verdianos,
ao longo da sua história e construção de uma Nação…
sofreram na pele, sucumbiram, vivenciaram…
A dimensão das secas e da Fome,
e souberam (ou sabem) o que é a Miséria.
Milhares morreram de boca seca e inchados estômagos
E a Dureza da vida os ensinou, ao longo dos tempos,
a comerem pedras para não perecerem…
Aprenderam a fintar a Vida e apreenderam como esquecer…
Pois conhecem ou sabem o que é o Inferno.
(Muitos, hoje, só conhecem o esquecer)
Milhares pereceram… e foi reclamado… cantado… versejado…
Retidas as estórias mil, de dôr… o Cabo VerDôr
em páginas de livros… cunhados a sangue verdiano.
Famintos, Flagelados do Vento Leste
e outras penas contaram e explicaram:
Nestas Ilhas, a coragem e o sonho,
Mais o driblar dos destinos… sempre andaram de mãos dadas,
porque mais fortes do que a eterna dor de rochas vulcânicas.
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Ti Goy
Com o lançamento, pela Cesária Évora do seu mais recente CD, Rádio Mindelo – este não de originais mas sim de velhos sucessos mindelenses dos anos 50/60 - um foco especial de luz recaiu sobre esse trovador da época: Ti Goy.
Gregório Gonçalves, mais conhecido por Ti Goy, na realidade, escreveu uma parte importante da nossa música e teatro da época, marcando a história cultural de Mindelo e de Cabo Verde, sobretudo na côr e novo estilo que deu à nossa coladera.
Ti Goy nasceu aqui no Mindelo, no ano de 1921. Na época em que o ‘Lombo’ era uma espécie de pulmão da cidade.
Menino de Lombo que enchia as noites do seu bairro com o som do seu violão e captava as mais sórdidas situações ‘coladeráveis’… na maior parte das vezes ‘colhidas’ nos bares populares e bem concorridos da época de muito movimento no Porto Grande e de muitos marinheiros do mundo nas noites mindelenses…
Autor, compositor e intérprete, Ti Goy tinha o seu próprio conjunto, o BeniTómica, onde pr’além da guitarra, também tocava ‘jazz’ como se chamava na altura a bateria, aqui no país. BeniTómica que o acompanhava na escrita musical desse período, com actuações em bailes por bares e festas privadas, mas também nas nascentes rádios do Mindelo - Rádio Club Mindelo e Rádio Barlavento.
Ti Goy, homem de mil e uma actividades e conhecido pelo seu humor constante, acabou por ser uma figura marcante da sua cidade, pois por ela se tornou mesmo, num autêntico animador cultural.
Também movimentou o teatro, escrevendo e encenando ‘sketches’ sarcásticos e bem-humorados; sentiu-se impulsionado ainda, a se ligar a essa manifestação de massas bem enraizada na ilha - o Carnaval – ‘queimando pestanas’ à frente do seu Bloco Lombiano; até o futebol lhe sugou energias, dando o litro pelo seu Derby.
Conhecia como ninguém, a vida, os temores, as fofocas, as estórias, os medos, as ruas, travessas… e as gentes do Mindelo… que ficaram retratadas nas suas composições. Pelo seu humanismo, e acima de tudo pelo seu amor à cultura e à terra, também faz o papel de produtor de jovens artistas: casos vários de que se destaca a Cize, Travadinha, ou a Fantcha.
Ti Goy compôs várias dezenas de coladeras – pois era o rei da coladera! – com um ritmo pessoal, em coladeras um pouco mais lentos que os habituais da época.
Ainda um jovem jornalista da rádio, lembro-me das desculpas dele em relação a entrevistas para a RNCV: “Ná Tchá, mi entrevista ê sô escrit… kê um ka krê pa tud gent pô ta gozá k’ês nha vuginha esganisód, na rádie!”, referindo-se humoradamente à voz de falsete que tinha.
Ti Goy morreu, já um pouco afastado e esquecido pela sociedade mindelense, em 1991.
Pelas coladeras da sua autoria… fica com uma ideia mais precisa da importância desse pequeno grande da nossa música: Nutridinha, Sabine Largam, Nho Antone Escaderod, Rabonhe, Golosa, Saiko Dayo, Canetada, Vaquinha Mansa, Juvita de Praça, Saia Travada, Pé di Boi, Amor de Fantasia, Cinturão Tem Mel, Corveta, Sardinha de Ribeira Bote, Terezinha, Ingrata… e muitas outras…
Autor, compositor e intérprete, Ti Goy tinha o seu próprio conjunto, o BeniTómica, onde pr’além da guitarra, também tocava ‘jazz’ como se chamava na altura a bateria, aqui no país. BeniTómica que o acompanhava na escrita musical desse período, com actuações em bailes por bares e festas privadas, mas também nas nascentes rádios do Mindelo - Rádio Club Mindelo e Rádio Barlavento.
Ti Goy, homem de mil e uma actividades e conhecido pelo seu humor constante, acabou por ser uma figura marcante da sua cidade, pois por ela se tornou mesmo, num autêntico animador cultural.
Também movimentou o teatro, escrevendo e encenando ‘sketches’ sarcásticos e bem-humorados; sentiu-se impulsionado ainda, a se ligar a essa manifestação de massas bem enraizada na ilha - o Carnaval – ‘queimando pestanas’ à frente do seu Bloco Lombiano; até o futebol lhe sugou energias, dando o litro pelo seu Derby.
Conhecia como ninguém, a vida, os temores, as fofocas, as estórias, os medos, as ruas, travessas… e as gentes do Mindelo… que ficaram retratadas nas suas composições. Pelo seu humanismo, e acima de tudo pelo seu amor à cultura e à terra, também faz o papel de produtor de jovens artistas: casos vários de que se destaca a Cize, Travadinha, ou a Fantcha.
Ti Goy compôs várias dezenas de coladeras – pois era o rei da coladera! – com um ritmo pessoal, em coladeras um pouco mais lentos que os habituais da época.
Ainda um jovem jornalista da rádio, lembro-me das desculpas dele em relação a entrevistas para a RNCV: “Ná Tchá, mi entrevista ê sô escrit… kê um ka krê pa tud gent pô ta gozá k’ês nha vuginha esganisód, na rádie!”, referindo-se humoradamente à voz de falsete que tinha.
Ti Goy morreu, já um pouco afastado e esquecido pela sociedade mindelense, em 1991.
Pelas coladeras da sua autoria… fica com uma ideia mais precisa da importância desse pequeno grande da nossa música: Nutridinha, Sabine Largam, Nho Antone Escaderod, Rabonhe, Golosa, Saiko Dayo, Canetada, Vaquinha Mansa, Juvita de Praça, Saia Travada, Pé di Boi, Amor de Fantasia, Cinturão Tem Mel, Corveta, Sardinha de Ribeira Bote, Terezinha, Ingrata… e muitas outras…
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Ambiente
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Adversários Políticos
Num país, onde, a cada dia que passa se tem a sensação/notícia, de que mais um dos muitos valores da nossa sociedade e cultura, morreu… apraz-nos realçar este acto que, espero, venha a ser hábito e não mera excepção, no nosso dia-a-dia da actualidade política.
Aliás, recentemente, alguns sinais desse calibre têm aparecido qual ‘relâmpago’ que se vê e faz barulho… e depois desaparece.
A esperança em como as coisas podem e devem mudar, positivamente… a esperança em como os Jotas poderão trazer essa mais-valia... Pois adversários políticos não são 'inimigos a abater'.
É possível discordar, ter e defender ideias antagónicas, com o respeito pelo companheiro… E sobretudo, elevando o respeito por aquele que os pôs no poder: os eleitores. (quanto a estes, também passarem a se respeitar, exigindo as mudanças e cumprindo com o seu papel nesta sociedade… já será uma outra ‘estória’…)
Arménio Vieira
"a persistência da memória" - Salvador Dalí
Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar nos lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto
Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta
Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.
Quiproquó
Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar nos lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto
Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta
Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.
sábado, fevereiro 14, 2009
Namorar a vida inteira...
E Deus criou (fez) as belas Crioulas…
E as espalhou pelos sete cantos do Mundo!
(Há companheiras fáceis de manter em namoros eternos?)
No dia dos Namorados, para não destoar – porque não tenho namorada, aqui este espaço, para os que têm… e que tenham a arte de as(os) manter:
Felicidades mil a todos os Namorados, desde os de bem tenra idade, até aos de cinquenta e mais anos de bonito namoro. Nô espaiá Amor na nôs vida… independent de són Valentin...
E as espalhou pelos sete cantos do Mundo!
(Há companheiras fáceis de manter em namoros eternos?)
No dia dos Namorados, para não destoar – porque não tenho namorada, aqui este espaço, para os que têm… e que tenham a arte de as(os) manter:
Felicidades mil a todos os Namorados, desde os de bem tenra idade, até aos de cinquenta e mais anos de bonito namoro. Nô espaiá Amor na nôs vida… independent de són Valentin...
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
O Som das Palavras
A canção de um mestre do som
Sou um mestre do som
Ouço o vento
Ouço o vento por entre as rochas vulcânicas
Ouço o vento sussurrando
sobre as ervas
Ouço o canto dos grilos à tardinha
Ouço o canto vertical das calhandras raras
Celebro a noite sideral tocando singing bowls do Nepal
Ouço o canto das águias-do-mar
Conheço todos os cantos das águias-do-mar
Ouço o assobio virtuoso de um pastor de cabras
Ouço o white noise do oceano e das tamareiras
Procuro fonolitos toco neles percutindo pedras
Ouço o misterioso canto dos pássaros nas falésias nocturnas
Ouço o pink noise da trovoada seca
Ouço a canção do meu ser
Ouço o sussurro do magnetismo terrestre
Sou um mestre do som
Ouço a canção do teu ser
Ouço os harmónicos da minha cana de bambu sibilando com o vento
Componho em mim a generosa sinfonia do mundo
Intraduzível nas pautas
Suficientemente audível
Como o adejar das asas de uma borboleta
Como uma borboleta voando por cima das vagas
Como o inconstante silêncio das nuvens
Vasc d’Montverde
Sou um mestre do som
Ouço o vento
Ouço o vento por entre as rochas vulcânicas
Ouço o vento sussurrando
sobre as ervas
Ouço o canto dos grilos à tardinha
Ouço o canto vertical das calhandras raras
Celebro a noite sideral tocando singing bowls do Nepal
Ouço o canto das águias-do-mar
Conheço todos os cantos das águias-do-mar
Ouço o assobio virtuoso de um pastor de cabras
Ouço o white noise do oceano e das tamareiras
Procuro fonolitos toco neles percutindo pedras
Ouço o misterioso canto dos pássaros nas falésias nocturnas
Ouço o pink noise da trovoada seca
Ouço a canção do meu ser
Ouço o sussurro do magnetismo terrestre
Sou um mestre do som
Ouço a canção do teu ser
Ouço os harmónicos da minha cana de bambu sibilando com o vento
Componho em mim a generosa sinfonia do mundo
Intraduzível nas pautas
Suficientemente audível
Como o adejar das asas de uma borboleta
Como uma borboleta voando por cima das vagas
Como o inconstante silêncio das nuvens
Vasc d’Montverde
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
Cinema: A mais bela de todos os tempos
Audrey Hepburn foi a escolhida, como a mais bela do cinema Hollywoodiano de todos os tempos, num inquérito realizado no Reino Unido.
Nicola Moulton editora de beleza da revista Vogue, explicou a escolha de Audrey pela sua “beleza atemporal”. Acrescentando que o grande trunfo da actriz, era a sua beleza cinematográfica que se mantém intacta e incrível, em todos os seus movimentos em cena.
Os entrevistados justificaram a escolha de Hepburn como a mais bela pelo “seu corpo e por seus olhos amendoados”.
A actriz belga Audrey Hepburn explodiu nos ecrãs e ganhou fama mundial, a partir da sua prestação no filme:
Nicola Moulton editora de beleza da revista Vogue, explicou a escolha de Audrey pela sua “beleza atemporal”. Acrescentando que o grande trunfo da actriz, era a sua beleza cinematográfica que se mantém intacta e incrível, em todos os seus movimentos em cena.
Os entrevistados justificaram a escolha de Hepburn como a mais bela pelo “seu corpo e por seus olhos amendoados”.
A actriz belga Audrey Hepburn explodiu nos ecrãs e ganhou fama mundial, a partir da sua prestação no filme:
“Breakfast at Tiffany's", de 1961
Paramount Pictures
Directed By: Blake Edwards
Starring: George Peppard, Patricia Neal, Buddy Ebsen
Role: Holly Golightly
Academy Award® Nomination, Best Actress.
Audrey faleceu a 20 de Janeiro de 1993 na Suíça, vítima de cancro no útero.
Audrey faleceu a 20 de Janeiro de 1993 na Suíça, vítima de cancro no útero.
A sua última actuação aconteceu no filme lançado em 1989, Além da Eternidade.
E esta, vai para a curiosidade do João Branco:
O segundo lugar ficou com a outra bela, Angelina Jolie.
As actrizes que completam a lista das mais belas da Sétima Arte, são:
Grace Kelly, Marilyn Monroe, Sophia Loren, Catherine Zeta-Jones, Elizabeth Taylor, Keira Knightley, Halle Berry, Brigitte Bardot, Julia Roberts, Vivien Leigh, Nicole Kidman, Cameron Diaz, Doris Day, Scarlett Johansson, Charlize Theron, Jennifer Aniston, Michelle Pfeiffer e Liv Tyler.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Força da Cobiça - Cinema Crioulo
Na sequência da leitura, esta manhã, do post do Bianda, sobre S.Vicente e o seu passado mais ou menos glorioso… e o que chamo de ‘perda uniformemente acelerada’ de peso e fluxo sócio-económico e cultural da Ilha, a nível do país, por causa de algumas oportunidades não aproveitadas, e mais do que concordando, mas sim sonhando com a salvação que queremos que seja possível… e, por outro lado, empurrado pelo convite para ir ver ‘uma das façanhas do passado’ desta Ilha em cinema: Força da Cobiça - quedei-me nesse feito: nos anos 50, ‘gente atrevida', cosmopolita e já 'pré-globalizada'… fazia experimentações, e produzia filmes crioulos, de A a Z… Neste caso, mudo, com certeza.
E lembrei-me dos mais velhos a referirem essa fase ‘particularmente interessante’ do Mindelo, nos anos cinquenta do século passado, a que podemos chamar de ‘criação de um cinema cabo-verdiano’, com películas rodadas e produzidas aqui no país. É o caso do filme que vai ser projectado amanhã, quinta-feira, 12 de Fevereiro, no Centro Cultural do Mindelo: Força da Cobiça.
Mas há mais! E aqui citamos Luís Silva: "O Guarda Vingador" e "Segredo de um Coração Culpado", da autoria de Henrique Pereira, português com uma grande experiência humana conquistada no Brasil, com a participação de António Silva (Antone Puntchinha), Dante Mariano e Djosinha, actual cantor do conjunto VOZ DE CABO VERDE, que interpreta a morna "LUIZA" da autoria de B.LEZA a pedido do produtor, e a "Força de Cobiça" de Chiquinho Djunga.
E Luís Silva acrescenta o que acha que poderia ter feito com que se parasse logo a seguir com essas experiências, na época: “Face às dificuldades financeiras, ao controlo da Censura e também à falta de mercado, esses filmes acabaram por desaparecer e não se sabe se existem algumas cópias em Portugal.”
Ao que parece, a resposta é que existem cópias, além de ‘cartazes’ no estilo d’antigamente, e bem feitos. Eu já tive a oportunidade de ver e apreciar coisas ligadas ao cinema de e/ou em Cabo Verde, dignas de museu, junto dum Dany Mariano que tem esse espírito de guardar, conservar, para mais tarde organizar e expor.
E lembrei-me dos mais velhos a referirem essa fase ‘particularmente interessante’ do Mindelo, nos anos cinquenta do século passado, a que podemos chamar de ‘criação de um cinema cabo-verdiano’, com películas rodadas e produzidas aqui no país. É o caso do filme que vai ser projectado amanhã, quinta-feira, 12 de Fevereiro, no Centro Cultural do Mindelo: Força da Cobiça.
Mas há mais! E aqui citamos Luís Silva: "O Guarda Vingador" e "Segredo de um Coração Culpado", da autoria de Henrique Pereira, português com uma grande experiência humana conquistada no Brasil, com a participação de António Silva (Antone Puntchinha), Dante Mariano e Djosinha, actual cantor do conjunto VOZ DE CABO VERDE, que interpreta a morna "LUIZA" da autoria de B.LEZA a pedido do produtor, e a "Força de Cobiça" de Chiquinho Djunga.
E Luís Silva acrescenta o que acha que poderia ter feito com que se parasse logo a seguir com essas experiências, na época: “Face às dificuldades financeiras, ao controlo da Censura e também à falta de mercado, esses filmes acabaram por desaparecer e não se sabe se existem algumas cópias em Portugal.”
Ao que parece, a resposta é que existem cópias, além de ‘cartazes’ no estilo d’antigamente, e bem feitos. Eu já tive a oportunidade de ver e apreciar coisas ligadas ao cinema de e/ou em Cabo Verde, dignas de museu, junto dum Dany Mariano que tem esse espírito de guardar, conservar, para mais tarde organizar e expor.
terça-feira, fevereiro 10, 2009
"Jame tmal!"
“Cerimónia corrê dret. Ame tmal disd aonte denôte. Foi ministra de cultura de Fransa ê k’entregáme el. Sô agora foi pusível… y d’ess vêz um bem dumitód pa recebê kel premie, kê nha Fransa um ka tem brincadera k’el. Ma sexta-fera um ta voltá. Nô ta falá lá”
Palavras da nossa diva dos pés descalços, a meio desta manhã, ao telefone, desde Paris.
Palavras da nossa diva dos pés descalços, a meio desta manhã, ao telefone, desde Paris.
A simplicidade e a maneira de ser ‘sui géneris’ de Cize, igual a si própria, e imperturbável frente a entusiasmos e feitos marcantes, depois de ter recebido, ontem, das mãos da Ministra Francesa da Cultura – Christine Albanel – a Legião de Honra. Condecoração que lhe foi atribuída pelo ex-presidente Jacques Chirac, desde Abril de 2007.
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Blog Joint (2) - Turismo - Estaremos no melhor caminho?
Qual a melhor definição para Turismo? Aquela que deveríamos almejar para Cabo Verde? Tenho-me re-colocado esta questão, n vezes… desde que ouvi da voz dum PM das Ilhas… em como a nossa aposta/solução seria o Turismo. Até aplaudi, pensando: o que não temos (riqueza, dinheiro, desenvolvimento), bem que pode ‘aparecer’ com turistas ‘mais ou menos endinheirados’ a movimentar a terrinha, passeando, conhecendo, consumindo… por algumas horas que seja que “turistem” pelas Ilhas. Porque algumas coisas básicas (trunfos) temos: um lugar sossegado, praias, sol, mar azul-turquês, morabeza… Que bom!
Mas não temos infra-estruturas, (Resorts, hotéis, piscinas, museus, centros culturais), artesanato ou outros produtos ‘made in Cabo Verde’. Só cachupa, grogue e música… pode não chegar… Enfim, um redemoinho de ideias e de preocupações… é preciso organizar, investir!
Ou, já mais de acordo com a definição mais consensual, da Organização Mundial de Turismo, ‘uma forma de desfrutarmos das actividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros," mas sem que estes (os turistas) tenham por motivação maior a obtenção de lucro. Um conceito mais à Thomas Cook: o prazer de viajar por terras desconhecidas, para ver, conhecer… mas é preciso investir! Investir em construção… mas também e sobretudo, na formação e na organização de infra-estruturas que criem o produto a vender.
Os anos foram passando, construção/betão desenfreado e sem controlo na Ilha do Sal… com um turismo incipiente e fechado no ‘sol, praia e mar’, e mais virado para o ‘indigno’ de pacotes ‘all inclusive’… nada de agências, organizações, infra-estruturas outras, nem incremento de produtos ‘made in Cabo Verde’… Master Plan do Turismo, só em sonhos d’alguns… e dois PM’s mais tarde, um JMN a abundar na mesma direcção: “O turismo é um dos motores de crescimento. Há o turismo e há a indústria ligeira voltada para a exportação. São dois sectores que poderão ser motores de crescimento. Mas há outros sectores importantes, como os transportes aéreos e marítimos. Queremos transformar Cabo Verde num centro principal de passageiros e cargas na região do Atlântico, como uma grande porta de entrada para África. E queremos que Cabo Verde se transforme numa importante praça financeira. Estamos a trabalhar neste sentido e também no domínio das novas tecnologias de telecomunicações e informações”. E na prática, a persistência na especulação imobiliária…betão/betão… e sua exportação para a Boavista, depois do quase esgotamento do Sal.
O motivo da actualização constante do conceito preconizado prende-se com o que chamo de ‘desvio’ visível a olho nú, no dia-a-dia das informações que mais saem, à volta do tema Turismo: Imobiliárias e venda de terrenos com, pelo meio, uma infinidade de especuladores a servirem de intermediários. E a sensação a tornar-se certeza, não se sente a preocupação ecológica de que há que proteger, no meio de tudo isso, a dimensão ambiental do país. O caso Murdeira, da actualidade, é um exemplo sintomático dessa situação de falta ou insuficiente precaução/amor para com a manutenção do equilíbrio ambiental, demonstrando a errónea certeza e determinação do investimento/desenvolvimento a qualquer custo. Porque parece que estamos alucinados pelo investimento total e incondicional nesse tipo de turismo... Só que, nessa via, depois de ‘chupado… o bagaço é atirado fora’.
Desenvolvimento em primeiro lugar, a confirmar-se em Novembro do ano passado, com o Conselho de Ministros Especializado para os Assuntos Económicos, Inovação e Competitividade reunido no Sal, para constatar o impacto da crise financeira internacional no sector da Imobiliária turística… com os governantes a enfrentarem o despedimento de mais de 700 trabalhadores em infra-estruturas turísticas em fase de construção, marcando o ambiente económico daquela ilha, num ambiente onde o Ambiente continua a ser o filho menor. Aliás o clima de crise financeira está-nos já a afectar, no sector imobiliário turístico, mais forte nas ilhas do Sal e da Boavista.
E o pior é que se sente no ar, que deuses menores podem estar a conjugar no sentido do poder financeiro estar a engolir o bom senso de certos corredores do poder politico...
E o pior é que se sente no ar, que deuses menores podem estar a conjugar no sentido do poder financeiro estar a engolir o bom senso de certos corredores do poder politico...
A lei da selva a imperar na compra/venda de terrenos, malabarismos mil em relação à propriedade dos terrenos que conseguem a proeza de ter vários donos… e o pior: cada vez mais, constatar que os mesmos ‘pedaços de chão das Ilhas’ vão passando a pertencer, em grande parte, a estrangeiros. Não consigo deixar de me perguntar: Cabo Verde estará à venda? O que vai acontecer quando já não haverá mais terrenos para vender? Que país vamos deixar para os nossos filhos e netos? Ainda haverá país?
Quero crer que estamos ainda em tempo de arrepiar caminho. De passar a dar o devido valor a estes ‘dez grãozinhos de terra’ que são a nossa única riqueza, e acautelar no máximo o frágil equilíbrio ambiental destas Ilhas, ponderando e apostando num desenvolvimento sustentado e amigo do ambiente. Porque podemos e devemos ganhar mais, com um turismo em que os nossos visitantes – turistas especiais – virão para ver, conhecer, conviver, e não sugar/destruir… mas para desfrutar/apreciar isto que temos de diferente, e queremos continuar a ter: “paisagens desérticas e lunáticas, tingidas do castanho seco e ‘destorrado’, vulcões activos ou não, praias de areias brancas ou negras que desaguam em aguas límpidas de um mar arco-íris de azuis mil, uma bela arquitectura nascida dos tempos de colónia portuguesa num S.Nicolau ou numa S.Vicente caldeirão de misturas culturais, de um Santo Antão de montanhas de tirar fôlego até a uma Brava perdida na neblina, passando pelo fogo do Vulcão Fogo, quinhentos anos de história e cultura nascidas no berço de Santiago, um clima quente e ensolarado particularmente no Maio, Boavista e no Sal, sem esquecer uma misteriosa e bela Santa Luzia. Enfim um caleidoscópio de ambientes e paisagens – a que poderemos juntar a música e mais manifestações culturais seculares - que Cabo Verde e o seu povo têm… e que poderão ‘deixar ser descoberto por esse tal Turista que vale à pena’.
· Bianda
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. Jornal da Hiena
sábado, fevereiro 07, 2009
Eku d'Alupec
A Internet tem destas coisas. Torna o mundo, autenticamente, uma aldeia onde, aqueles que podem ou se interessam minimamente, podem se conhecer digitalmente e estar ‘juntos’ mesmo que cada um continue fisicamente no seu ‘canto do mundo’…
Esta introduçãozinha para trazer aqui no teatrakácia esta reacção de um brasileiro - por sinal já com o ‘bichinho’ de Cabo Verde por já ter vivido no país … e Presidente da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil – à nossa aprovação do Alupec:
Esta introduçãozinha para trazer aqui no teatrakácia esta reacção de um brasileiro - por sinal já com o ‘bichinho’ de Cabo Verde por já ter vivido no país … e Presidente da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil – à nossa aprovação do Alupec:
“Re :Língua-Cabo Verde aprova alfabeto para escrita do crioulo
Envoyé par : "jverdasca" mailto:j.verdasca@uol.com.br?Subject=%20Re%A0:%20Re%A0:L%EDngua-Cabo%20Verde%20aprova%20alfabeto%20para%20escrita%20do%20crioulo
Vendredi 6. Février 2009 17:34
O crioulo de Cabo VerdeDialeto-língua de raízes alecerçadas em várias línguas europeias (português arcaico, francês, inglês, italiano) e nos muitos dialetos africanos dos povos dessa origem, o crioulo de Cabo Verde é um dialeto encantador, terno e suave, que merece ser institucionalizado, até porque, desde longa data, é a escrita de bela literatura, de poetas e contistas locais.Aprendi o dialeto na Praia, quando lá residi, entre 1959 e 1961, e passei a admirar esse povo sofrido mas acolhedor e fraterno, de rica cultura e nível de instrução por vezes superior à metrópole de então, que era Portugal. A Nação Caboverdeana - fruto da fusão de muitos sangues e do caldeamento de outras tantas culturas, merece ser acarinhada e estudada, por seus exemplos de resistência à adversidade, de adaptação ao ambiente hostil, de determinação face às secas e fomes periódicas.Composto por 9 ilhas - 5 no Barlavento: Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, Sal e Boavista - e 4 no Sotavento: Maio, Santiago, Fogo e Brava - o Estado de Cabo Verde é um exemplo de sucesso desde a independência de Portugal, por ter seguido caminhos democráticos, de respeito a todos os seus habitantes. Com um conjunto de comunidades de e-imigrantes no estrangeiro que ultrapassam a população da Pátria-mãe, Cabo verde tem sabido ultrapassar, ou, pelo menos, contornar a congénita pobreza, e seguir em frente com harmonia e dignidade. É UM EXEMPLO PARA TODA A ÁFRICA.
José Verdasca dos Santos - Presidente da Ordem Nacional dos Escritores – Brasil”
Nota: Não sei o que ‘aconteceu’ a S.Nicolau, mas o mais provável é que tenha sido trocado, por lapso, com Santa Luzia – já que o 'nosso' escritor se referia às ilhas habitadas, com certeza.
E quantos cabo-verdianos, residentes e espalhados pela diáspora toda, não terão ‘sabido e vivido’ esse facto?
E quantos cabo-verdianos, residentes e espalhados pela diáspora toda, não terão ‘sabido e vivido’ esse facto?
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
Sem a força do Amor
Sinto-me lentamente a morrer
Pois até a Lua deixei de contemplarO Sol, esse, deixou de m’aquecer
Nem tenho a alegria de quem viaja…
O ‘amigo que vale a pena’,
Queda-se poeirento na estante,
Pois os dias passam em sufoco
Em luta silenciosa à procura de paz
Quem não lê fica confinado
À quadratura do quarto sem alma,
À falta de cor do arco-íris hodierno,
À morte em plena mistificação de Vida.
Ah, já não ouve música esta esquecida alma
Cujo sorriso já não mora,
Apenas passa, fugazmente…
Porque sem a força do Amor…
Alma desalmada que já não encontra graça
Nem mesmo em si própria.
Sinto-me lentamente a morrer…
Pois até a Lua deixei de namorar!
(Ou ela já não me acha graça?)
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
Dia Nacional do Pescador
Pescador...
(essa dura profissão de homens que se levantam, de madrugada, lançando-se ao mar… sempre em potencial perigo de vida… à procura do “pão pr’a boca” dos filhos que sempre abundam…)
(essa dura profissão de homens que se levantam, de madrugada, lançando-se ao mar… sempre em potencial perigo de vida… à procura do “pão pr’a boca” dos filhos que sempre abundam…)
fotos de Hellio Vaninger
A dura e imprevisível vida dos nossos pescadores na sua faina diária, é reconhecida num dia como hoje, 5 de Fevereiro: a faina e a vida dura dos homens do mar, e com eles, as preocupações actuais em relação ao peixe cada vez mais escasso… e à inerente necessidade de preservar para que não falte amanhã. Aliás, a filosofia do velho pescador de S. Pedro, Albertino, permite-lhe afirmar categoricamente, do alto do seu bote: ‘Pésca de manhá ta dependê tcheu de pésca d’ahoje!!!’
Nos tempos que correm, com as dificuldades acrescidas, do peixe cada vez mais longe da costa, impõe-se para todos a necessidade de gestão. Uma gestão imposta pela necessidade de preservar para poder continuar a dispôr…
Os nossos homens e mulheres da pesca e do mar, precisam se adaptar aos novos tempos, e paulatinamente, pela necessidade, pela descoberta, pelo amor lutam e lutam, procurando vencer na Vida. Mesmo que seja necessário mudar velhos e tradicionais hábitos seculares de pesca enraizados no ‘modus operandi’ da faina nas ilhas.
A palavra de ordem é ‘preservar para não faltar’. Respeitar a Natureza, ou dito de forma mais correcta: voltar a respeitar a natureza, ajudando a que se mantenha o equilíbrio natural das coisas…
Pôr em prática – para todos - divulgando as medidas tomadas para proteger o património natural, pois é necessário proteger e mesmo voltar a criar esse verdadeiro tesouro marinho que ainda temos, pois a qualidade ambiental está em muito relacionada com os esforços de preservação que todos queremos que sejam enormes. E os Pescadores sabem disso!
Uma homenagem merecida a esses profissionais da pesca, no seu Dia Nacional.
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
O Comandante das Aguas Turvas (I e II)
- Há, ou devia haver, sempre (!) um Vasco da Gama nas nossas vidas…
- Como? Hoje destes para anedotas?
- O pior é que o meu, precisa ainda ser descoberto por mim… E digo, por mim, porque tu bem que o podes ter descoberto por ti… aliás como já mo dissestes bastas vezes…
- O que dizes querido?
- Não acredito… Quarenta e dois anos a viver comigo mesmo… e nem Índias nem Américas para mim.
- O que se passa contigo, Amílcar? Falas, falas… e não comunicas. Que história é essa?
- Eu só tenho um Porto conhecido e seguro.
- Sonhastes querido?
- Porto seguro… Ahn?
- Ahn! Eureka, parece que acordastes agora. Amílcar Eugénio Lima…
- Hum. Acordei agora? Guida, não brinques comigo. Estavas a falar comigo? O que foi que dissestes? Desculpa-me…
- Há que tempos te estou a falar, e não me respondes…
- Quem? Eu? Comigo?
- Claro! Alô! Estás a ver mais alguém aqui em casa? O nosso Eugénio… esse, já só nos enche a casa nas férias… Ah Amílcar, que saudades do nosso menino…
- Ah não! Outra vez, não!
- Todas as vezes. Todas as vezes…
- Margarida! Margarida querida, de novo?
- Novo? Não há nada de novo. A não ser este vazio deixado pelo nosso menino ausente…
- Ah! … Eu preciso. É uma necessidade. Mudar de cenário. Mudar de corpo. Co-habitar… apoderar… existir… descobrir… encontrar-me…
Eu que tenho a pretensão de o conhecer, por pensar o ter criado, noto que ele se vai esvaindo para a minha pena…para viver para a realidade que o circunda. A esposa, o quarto, os móveis, tudo à volta, vai perdendo cor e brilho, lentamente, até desaparecer para o Amílcar. Olhos vítreos… Aqui, mais uma vez reconheço que, apesar do meu convencimento, não o controlo. Tem vida própria. E ficou já provado, deixando-me com o queixo caído, as mãos trementes… E alguns dias estéreis, sem poder escrever uma letra. Continuo a pensar nesse episódio que me aconteceu, e cada vez mais entendo menos. Mas isto ‘são contas para outro rosário’. Tenho que me concentrar no agora. No que está mais uma vez a acontecer… sem o escritor… Observo o Amílcar: olhos vítreos… Poderia estar no cume de Tôpe de Coroa, camisa dançando ao vento, o infinito a monopolizar-lhe a vista, a mente.
- É uma necessidade: preciso encontrar os meus outros mim… Sei que existem. Sinto que existem… Ao longo dos anos, há um pensar (sonhando) que mais parece um sonho sem fim, que se me repete!Eu existo porque senão não estaria pr'aqui a pensar... e dos biliões de habitantes deste planeta azul... porque será que só estou com este Eu -um Eu aqui destas ilhas perdidas no meio do Atlântico - e não com n outros eus possíveis por este planeta dentro...Sem falar, sem nome, sem história, origem ou cor... sigo pensando, sonhando... mas continuo sempre este mesmo Eu. Um simples cabo-verdiano, anónimo na vida do dia-a-dia do sobreviver constante, por um mundo melhor, a começar por estas ilhas afortunadas... E porquê este quarto, esta casa que de tão familiar… me é estranho… Fui eu que comprei, ou fiz esta casa? E é sempre assim… dias iguais… a mesma mulher… a mesma terra castanha no ecrã da minha janela…E acordo do pensar, acordo do sonho, e continuo a perguntar porque não sou a alma/espírito de um outro ser qualquer desta Vida? Devia era haver um Vasco da Gama nas nossas vidas… E ainda hei-de descobrir o meu. Asseguro que eles – os meus outros mim - estiveram sempre presentes desde o momento zero da minha missão na terra. Hum, cá estou eu, de novo, com esta mania de ‘missão’… não sei qual de nós… ou deles, tem essa filosofia como esteio de vida… missão… que missão?
O ruído do bater da porta soa a explosão ou ao deflagrar de um tiro. Corta o navegar do ‘comandante d’aguas turvas’, como ele próprio se auto-intitula. Confesso que também nisso, não tive um único dedo. Prometo pô-lo a explicar-se sobre esse episódio. Amílcar volta a se deixar possuir…fica por momentos petrificado. Não se percebe que esse ser é vivo. Deve respirar d’outra forma qualquer. E sei isso porque não é a primeira vez que o vejo nesse estado. Petrificado não aparece aqui por acaso. É o que melhor define o que vejo: não respira, não meche, não estremece, não treme, não esboça o mais leve movimento. Parece que o tempo pára: Olhos vidrados, sem expressão nenhuma. Da primeira vez, saí a correr à procura de quem evitasse a morte eminente do meu personagem, de caneta em punho, pois a situação o impunha. Sentia a urgência em agir de imediato. Cada minuto poderia ser o último. Não o queria perder, ficava sem personagem e sem história. Nas imediações da casa dele, só pardais, algumas acácias, e uma estrada calcetada por gente que tem jeito, tal a arte e beleza das pedras trabalhadas por escultor de mão afinada. E também, ao fundo, a imponência do Monte que, de verde, só tem o nome. Verde, aliás que parece ser uma espécie de ‘frustração colectiva’ por aquelas ilhas perdidas no meio do Atlântico.
- Como? Hoje destes para anedotas?
- O pior é que o meu, precisa ainda ser descoberto por mim… E digo, por mim, porque tu bem que o podes ter descoberto por ti… aliás como já mo dissestes bastas vezes…
- O que dizes querido?
- Não acredito… Quarenta e dois anos a viver comigo mesmo… e nem Índias nem Américas para mim.
- O que se passa contigo, Amílcar? Falas, falas… e não comunicas. Que história é essa?
- Eu só tenho um Porto conhecido e seguro.
- Sonhastes querido?
- Porto seguro… Ahn?
- Ahn! Eureka, parece que acordastes agora. Amílcar Eugénio Lima…
- Hum. Acordei agora? Guida, não brinques comigo. Estavas a falar comigo? O que foi que dissestes? Desculpa-me…
- Há que tempos te estou a falar, e não me respondes…
- Quem? Eu? Comigo?
- Claro! Alô! Estás a ver mais alguém aqui em casa? O nosso Eugénio… esse, já só nos enche a casa nas férias… Ah Amílcar, que saudades do nosso menino…
- Ah não! Outra vez, não!
- Todas as vezes. Todas as vezes…
- Margarida! Margarida querida, de novo?
- Novo? Não há nada de novo. A não ser este vazio deixado pelo nosso menino ausente…
- Ah! … Eu preciso. É uma necessidade. Mudar de cenário. Mudar de corpo. Co-habitar… apoderar… existir… descobrir… encontrar-me…
Eu que tenho a pretensão de o conhecer, por pensar o ter criado, noto que ele se vai esvaindo para a minha pena…para viver para a realidade que o circunda. A esposa, o quarto, os móveis, tudo à volta, vai perdendo cor e brilho, lentamente, até desaparecer para o Amílcar. Olhos vítreos… Aqui, mais uma vez reconheço que, apesar do meu convencimento, não o controlo. Tem vida própria. E ficou já provado, deixando-me com o queixo caído, as mãos trementes… E alguns dias estéreis, sem poder escrever uma letra. Continuo a pensar nesse episódio que me aconteceu, e cada vez mais entendo menos. Mas isto ‘são contas para outro rosário’. Tenho que me concentrar no agora. No que está mais uma vez a acontecer… sem o escritor… Observo o Amílcar: olhos vítreos… Poderia estar no cume de Tôpe de Coroa, camisa dançando ao vento, o infinito a monopolizar-lhe a vista, a mente.
- É uma necessidade: preciso encontrar os meus outros mim… Sei que existem. Sinto que existem… Ao longo dos anos, há um pensar (sonhando) que mais parece um sonho sem fim, que se me repete!Eu existo porque senão não estaria pr'aqui a pensar... e dos biliões de habitantes deste planeta azul... porque será que só estou com este Eu -um Eu aqui destas ilhas perdidas no meio do Atlântico - e não com n outros eus possíveis por este planeta dentro...Sem falar, sem nome, sem história, origem ou cor... sigo pensando, sonhando... mas continuo sempre este mesmo Eu. Um simples cabo-verdiano, anónimo na vida do dia-a-dia do sobreviver constante, por um mundo melhor, a começar por estas ilhas afortunadas... E porquê este quarto, esta casa que de tão familiar… me é estranho… Fui eu que comprei, ou fiz esta casa? E é sempre assim… dias iguais… a mesma mulher… a mesma terra castanha no ecrã da minha janela…E acordo do pensar, acordo do sonho, e continuo a perguntar porque não sou a alma/espírito de um outro ser qualquer desta Vida? Devia era haver um Vasco da Gama nas nossas vidas… E ainda hei-de descobrir o meu. Asseguro que eles – os meus outros mim - estiveram sempre presentes desde o momento zero da minha missão na terra. Hum, cá estou eu, de novo, com esta mania de ‘missão’… não sei qual de nós… ou deles, tem essa filosofia como esteio de vida… missão… que missão?
O ruído do bater da porta soa a explosão ou ao deflagrar de um tiro. Corta o navegar do ‘comandante d’aguas turvas’, como ele próprio se auto-intitula. Confesso que também nisso, não tive um único dedo. Prometo pô-lo a explicar-se sobre esse episódio. Amílcar volta a se deixar possuir…fica por momentos petrificado. Não se percebe que esse ser é vivo. Deve respirar d’outra forma qualquer. E sei isso porque não é a primeira vez que o vejo nesse estado. Petrificado não aparece aqui por acaso. É o que melhor define o que vejo: não respira, não meche, não estremece, não treme, não esboça o mais leve movimento. Parece que o tempo pára: Olhos vidrados, sem expressão nenhuma. Da primeira vez, saí a correr à procura de quem evitasse a morte eminente do meu personagem, de caneta em punho, pois a situação o impunha. Sentia a urgência em agir de imediato. Cada minuto poderia ser o último. Não o queria perder, ficava sem personagem e sem história. Nas imediações da casa dele, só pardais, algumas acácias, e uma estrada calcetada por gente que tem jeito, tal a arte e beleza das pedras trabalhadas por escultor de mão afinada. E também, ao fundo, a imponência do Monte que, de verde, só tem o nome. Verde, aliás que parece ser uma espécie de ‘frustração colectiva’ por aquelas ilhas perdidas no meio do Atlântico.
terça-feira, fevereiro 03, 2009
Solitary Man
Lençóis amarrotados,
Cama vazia de amor…
Vazia do filtro de luz azul,
Vazia do respirar de gente amada
Minha solidão existencial
em quarto ausente
lua cheia de amor
se projecta dividindo cama e coração…
Nem tudo nesta vida é poesia
Não consigo ser feliz…
Nem tudo nesta vida é poesia
lágrimas saem em convulsões.
Tenho mais estômago de bebe…
Falta-me perícia de marinheiro.
Lágrimas por isto e por aquilo,
Líquida Dor, de aperto e sufoco
Amor não correspondido…
Amor não entendido…
Amor não justiçado…
Amor… em vão gastado
Ah este purismo de amar…
E sonhar, sonhar, sonhar…
Afinal a vida se resume…
A mil e uma noites brancas…
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