É! Aí está uma boa notícia!
Nos últimos dois anos, muita gente nos abordou a perguntar pelos famosos 'Cursos de Teatro'. 'Há dificuldades ou indisponibilidades... creio que financeiras...' Era a minha resposta aos ansiosos por saber informação sobre o próximo curso do CCP. Conjugaram-se esforços, o CCP Mindelo conseguiu o apoio CCM... Dionísio deve ter supervisionado!
E agora a resposta. Inscrições já estão abertas aí no Centro Cultural Portugês do Mindelo.
E não há dúvida nenhuma que esta é uma decisão importante, pois todos estarão de acordo que os cursos de iniciação teatral do CCP foram e continuam a ser o que podemos chamar de 'alicerces' da nova largada do teatro em S.Vicente, e no país.
Aos interessados... a hora é esta!
quinta-feira, outubro 30, 2008
quarta-feira, outubro 29, 2008
Teatro: Comédia absurda "Os Antílopes", sobre "a relação dos brancos com África"
Aqui no Teatrakácia, apraz-nos falar desse homem do teatro que, na nossa óptica, representa bem a essência do Teatro: Partilhar!
Porque, no Teatro tudo se faz a partir da necessidade de partilhar, começando pelo dramaturgo que, mais não faz do que atender a essa vontade de partilha de uma história que lhe povoa a mente. É verdade, para que aconteça Teatro, muita gente ‘apaixonada’ tem que partilhar tudo até chegar ao espectador…
Mas voltando à origem deste post. Estreia em Portugal da peça do sueco Henning Mankell, “Os Antílopes” que conta a história quase sempre problemática da relação dos brancos com África.
Com a devida vénia, o ‘papel’ da Lusa aqui no Teatrakácia:
“A Companhia de Teatro de Almada estreia quinta-feira a comédia absurda “Os Antílopes”, do escritor sueco Henning Mankell, no Teatro Municipal de Almada, numa encenação de Solveig Nordlund.
“[A peça] conta a última noite em África de um casal de cooperantes que está à espera do substituto do marido num projecto do Banco Mundial para abrir poços… e o substituto acaba por chegar”, disse à Lusa a encenadora sueca naturalizada portuguesa.
Os actores Isabel Muñoz Cardoso, José Airosa e Rogério Vieira vestem a pele das três personagens desta comédia, que a encenadora escolheu para apresentar este escritor e argumentista sueco de 60 anos, que há muito tempo vive entre a Suécia e Moçambique e cuja obra nunca foi representada em Portugal.
“Ele diz que os negros são as personagens principais da peça, mas são invisíveis. Portanto, os actores da peça são os brancos, a peça é sobre a relação dos brancos com África”, explicou Solveig Nordlund, uma relação que Mankell “conhece bem”, porque vive e trabalha em Maputo, como director do Teatro Avenida, para o qual escreve e encena.
“São dois mundos - é isso que ele sublinha - que não se conhecem e, de facto, não se compreendem”, observou.
Sobre a sua ida para África, o escritor explica, citado no comunicado do TMA, que não foi “por motivos românticos”.
“Aqui não há nada de paradisíaco - bem pelo contrário. Mas desde a infância sabia que um dia havia de vir para cá”, afirma Mankell, que nasceu numa pequena cidade do nordeste da Suécia, se casou com a filha do cineasta Ingmar Bergman e foi, durante anos, dramaturgo e encenador, até publicar, em 1973 o seu primeiro romance, e se celebrizar com o policial “Assassino sem Rosto”, a que se seguiram outros (publicados em Portugal pela Presença).
“Fico colérico quando oiço a forma como se fala de África [na Europa]. Sabemos tudo acerca de como os africanos morrem, e nada sobre a forma como eles vivem! Chegou a altura de África invadir a Europa com as suas histórias, tal como fez a América Latina nos anos sessenta”, defende.
Henning Mankell mantém a sua ligação à Suécia, através da editora que fundou, a Leopard, na qual utiliza os lucros das vendas dos seus romances policiais para publicar autores africanos.
Fundou igualmente uma oficina de escrita, a que chamou Memory Books, para que pessoas infectadas com o vírus da sida possam deixar aos filhos um testemunho das suas vidas. “Os Antílopes” estará em cena na sala experimental do Teatro Municipal de Almada (TMA) até 30 de Novembro, de quarta-feira a sábado às 21:30 e ao domingo às 16:00.
Na quinta-feira, depois da estreia da peça, pelas 23:30, será inaugurada na galeria do teatro uma exposição de pintura da autoria da encenadora, realizadora e pintora Solveig Nordlund, de 64 anos, à qual o TMA dedica o mês de Novembro.
A completar o programa, decorrerá ainda um ciclo de cinema, em que serão exibidos quatro filmes por ela realizados, o primeiro dos quais será, no dia 04, “Comédia Infantil” (2003), uma adaptação de um livro de Mankell com o mesmo nome, editado em Portugal pela Asa.
“É uma história sobre crianças de rua em África, crianças na guerra, é uma história mágica e muito bonita”, referiu.
A 13 de Novembro, será projectado o filme “Aparelho Voador a Baixa Altitude” (2002), dia 15 será a vez de “Uma História Imortal” (1992) e, a 19, “Uma História Imortal” (2003).”
Enfim, com isso, levanta-se o véu da paixão de vida de um branco que do contacto com África, saiu (ou nunca mais de cá saiu!, pois vive em Moçambique, e é encenador do grupo de teatro daquele país irmão - Mutumbela Gogo - por sinal grupo que já esteve no nosso MINDELACT) apaixonado, e com uma missão particular: ajudar a melhorar um pouco que seja, a vida do Africano.
Porque, no Teatro tudo se faz a partir da necessidade de partilhar, começando pelo dramaturgo que, mais não faz do que atender a essa vontade de partilha de uma história que lhe povoa a mente. É verdade, para que aconteça Teatro, muita gente ‘apaixonada’ tem que partilhar tudo até chegar ao espectador…
Mas voltando à origem deste post. Estreia em Portugal da peça do sueco Henning Mankell, “Os Antílopes” que conta a história quase sempre problemática da relação dos brancos com África.
Com a devida vénia, o ‘papel’ da Lusa aqui no Teatrakácia:
“A Companhia de Teatro de Almada estreia quinta-feira a comédia absurda “Os Antílopes”, do escritor sueco Henning Mankell, no Teatro Municipal de Almada, numa encenação de Solveig Nordlund.
“[A peça] conta a última noite em África de um casal de cooperantes que está à espera do substituto do marido num projecto do Banco Mundial para abrir poços… e o substituto acaba por chegar”, disse à Lusa a encenadora sueca naturalizada portuguesa.
Os actores Isabel Muñoz Cardoso, José Airosa e Rogério Vieira vestem a pele das três personagens desta comédia, que a encenadora escolheu para apresentar este escritor e argumentista sueco de 60 anos, que há muito tempo vive entre a Suécia e Moçambique e cuja obra nunca foi representada em Portugal.
“Ele diz que os negros são as personagens principais da peça, mas são invisíveis. Portanto, os actores da peça são os brancos, a peça é sobre a relação dos brancos com África”, explicou Solveig Nordlund, uma relação que Mankell “conhece bem”, porque vive e trabalha em Maputo, como director do Teatro Avenida, para o qual escreve e encena.
“São dois mundos - é isso que ele sublinha - que não se conhecem e, de facto, não se compreendem”, observou.
Sobre a sua ida para África, o escritor explica, citado no comunicado do TMA, que não foi “por motivos românticos”.
“Aqui não há nada de paradisíaco - bem pelo contrário. Mas desde a infância sabia que um dia havia de vir para cá”, afirma Mankell, que nasceu numa pequena cidade do nordeste da Suécia, se casou com a filha do cineasta Ingmar Bergman e foi, durante anos, dramaturgo e encenador, até publicar, em 1973 o seu primeiro romance, e se celebrizar com o policial “Assassino sem Rosto”, a que se seguiram outros (publicados em Portugal pela Presença).
“Fico colérico quando oiço a forma como se fala de África [na Europa]. Sabemos tudo acerca de como os africanos morrem, e nada sobre a forma como eles vivem! Chegou a altura de África invadir a Europa com as suas histórias, tal como fez a América Latina nos anos sessenta”, defende.
Henning Mankell mantém a sua ligação à Suécia, através da editora que fundou, a Leopard, na qual utiliza os lucros das vendas dos seus romances policiais para publicar autores africanos.
Fundou igualmente uma oficina de escrita, a que chamou Memory Books, para que pessoas infectadas com o vírus da sida possam deixar aos filhos um testemunho das suas vidas. “Os Antílopes” estará em cena na sala experimental do Teatro Municipal de Almada (TMA) até 30 de Novembro, de quarta-feira a sábado às 21:30 e ao domingo às 16:00.
Na quinta-feira, depois da estreia da peça, pelas 23:30, será inaugurada na galeria do teatro uma exposição de pintura da autoria da encenadora, realizadora e pintora Solveig Nordlund, de 64 anos, à qual o TMA dedica o mês de Novembro.
A completar o programa, decorrerá ainda um ciclo de cinema, em que serão exibidos quatro filmes por ela realizados, o primeiro dos quais será, no dia 04, “Comédia Infantil” (2003), uma adaptação de um livro de Mankell com o mesmo nome, editado em Portugal pela Asa.
“É uma história sobre crianças de rua em África, crianças na guerra, é uma história mágica e muito bonita”, referiu.
A 13 de Novembro, será projectado o filme “Aparelho Voador a Baixa Altitude” (2002), dia 15 será a vez de “Uma História Imortal” (1992) e, a 19, “Uma História Imortal” (2003).”
Enfim, com isso, levanta-se o véu da paixão de vida de um branco que do contacto com África, saiu (ou nunca mais de cá saiu!, pois vive em Moçambique, e é encenador do grupo de teatro daquele país irmão - Mutumbela Gogo - por sinal grupo que já esteve no nosso MINDELACT) apaixonado, e com uma missão particular: ajudar a melhorar um pouco que seja, a vida do Africano.
terça-feira, outubro 14, 2008
Teatro Infantil
Uma peça bem conseguida da vertente teatro infantil do Atelier Teatrakácia, é com certeza ‘A BRUXINHA QUE ERA BOA’, da dramaturga brasileira Maria Clara Machado. ‘Zum-zum-zum mi ê bruxinha… zum-zum-zum mi ê mázinha’, cantiguinha das bruxas que ficou nos lábios das nossas crianças, (e não só!) aquelas que foram ver a peça.
Uma reposição possível… a ser pensada, talvez para o Natal…
E isso acontece numa altura em que, do Brasil da dramaturga, chega-nos a notícia de que o ‘espectáculo infantil ( A bruxinha que era boa ) estará em cartaz neste domingo (19), em sessão única às 10h30, na sala de espectáculo do Departamento de Teatro (Av. Getulio Vargas, 128).
“A Bruxinha que era Boa”, marca a estreia da Oficina de Teatro da Secretaria da Criança e do Adolescente (SECA), em parceria com o Departamento de Teatro da Secretaria de Cultura. Citamos isto, pensando na ‘presença da Cultura – ministério – na vida, no dia-a-dia, da produção cultural do Brasil. Presença assumida, por se acreditar no papel do ministério (Secretaria) na facilitação, no criar de condições para que os agentes possam produzir… mas isso é outra ‘estória’, e não serve para menino dormir…
Regressemos à peça: ‘Se a princípio, "A bruxinha que era boa " pode ser vista como a eterna luta entre o bem e o mal, uma análise maior nos leva a reflectir sobre temas relacionados com inclusão e exclusão social. De como somos treinados a dar as mesmas respostas às mesmas perguntas.Todas as bruxas têm uma só maneira de ser, de se vestir e viver. Agem e se manifestam de forma igual. Pensam e respondem de forma igual. Mas, entre tantas, há uma bruxa diferente: a Bruxinha Ângela. Uma bruxa que dá respostas diferentes das do grupo. Seu amor à liberdade - sonho de voar por sobre as árvores maiores - repele a "iniciação" a que todas as bruxinhas são submetidas. E assim, como castigo deve ser excluída do grupo, e condenada a ficar presa na "Torre de Piche". Haverá antídoto contra essa bruxaria?Bruxo - Qual é a melhor coisa do mundo?Bruxinha Ângela - Deve ser andar de vassoura a jacto, lá por cima no céu perto das árvores maiores!Bruxo - ... tu és a pior aluna que já tive. Hoje à noite terás a última oportunidade. Se não fizeres nada, serás presa na Torre de Piche. E nunca mais sairás. Todas as bruxas terão que fazer suas primeiras maldades esta noite.
Mas a bruxinha-boa é claro que não há-de conseguir ‘ovelhizar-se’… uma ‘estória que traz de volta e ‘entrega’ às nossas crianças hoje – homens de amanhã – valores outros, dos bons, que hão-de contribuir para um Homem melhor nestes tempos modernos que cada vez mais menosprezam os bons valores humanos…
Uma reposição possível… a ser pensada, talvez para o Natal…
E isso acontece numa altura em que, do Brasil da dramaturga, chega-nos a notícia de que o ‘espectáculo infantil ( A bruxinha que era boa ) estará em cartaz neste domingo (19), em sessão única às 10h30, na sala de espectáculo do Departamento de Teatro (Av. Getulio Vargas, 128).
“A Bruxinha que era Boa”, marca a estreia da Oficina de Teatro da Secretaria da Criança e do Adolescente (SECA), em parceria com o Departamento de Teatro da Secretaria de Cultura. Citamos isto, pensando na ‘presença da Cultura – ministério – na vida, no dia-a-dia, da produção cultural do Brasil. Presença assumida, por se acreditar no papel do ministério (Secretaria) na facilitação, no criar de condições para que os agentes possam produzir… mas isso é outra ‘estória’, e não serve para menino dormir…
Regressemos à peça: ‘Se a princípio, "A bruxinha que era boa " pode ser vista como a eterna luta entre o bem e o mal, uma análise maior nos leva a reflectir sobre temas relacionados com inclusão e exclusão social. De como somos treinados a dar as mesmas respostas às mesmas perguntas.Todas as bruxas têm uma só maneira de ser, de se vestir e viver. Agem e se manifestam de forma igual. Pensam e respondem de forma igual. Mas, entre tantas, há uma bruxa diferente: a Bruxinha Ângela. Uma bruxa que dá respostas diferentes das do grupo. Seu amor à liberdade - sonho de voar por sobre as árvores maiores - repele a "iniciação" a que todas as bruxinhas são submetidas. E assim, como castigo deve ser excluída do grupo, e condenada a ficar presa na "Torre de Piche". Haverá antídoto contra essa bruxaria?Bruxo - Qual é a melhor coisa do mundo?Bruxinha Ângela - Deve ser andar de vassoura a jacto, lá por cima no céu perto das árvores maiores!Bruxo - ... tu és a pior aluna que já tive. Hoje à noite terás a última oportunidade. Se não fizeres nada, serás presa na Torre de Piche. E nunca mais sairás. Todas as bruxas terão que fazer suas primeiras maldades esta noite.
Mas a bruxinha-boa é claro que não há-de conseguir ‘ovelhizar-se’… uma ‘estória que traz de volta e ‘entrega’ às nossas crianças hoje – homens de amanhã – valores outros, dos bons, que hão-de contribuir para um Homem melhor nestes tempos modernos que cada vez mais menosprezam os bons valores humanos…
“A Bruxinha que era Boa”, montagem do Atelier Teatrakácia. Texto de Maria Clara Machado, Direcção de Janira Gomes e Herlandson . Assistência de Direção de Mariza Santos e Carlos Silva.
Elenco: Ivone Santos – a bruxinha diferente
Elenco: Ivone Santos – a bruxinha diferente
quinta-feira, outubro 02, 2008
Dramaturgia
Aquilo que falta por cá, embora já tenhamos estado bem piores em períodos de longas pasmaceiras cénicas, faz com que estejamos sempre bem atentos a qualquer 'movimentação' nesse espaço - a dramaturgia. Pela pena da Jornalista Otília Leitão, in asemana-on-line, chega-nos esta 'lufada de ar fresco'. Um dramaturgo caboverdiano, com 'canudo' e tudo: Armindo Tavares.
É claro que queremos saber mais. Tudo!
Com a devida vénia...
Postal de Lisboa
Numa Juventude marcada por desafectos, Armindo Tavares nunca tinha lido um jornal até aos 22 anos. Hoje é, aos 48 anos, o primeiro cabo-verdiano a obter uma licenciatura em “Dramaturgia” na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e, publicado o seu ensaio “As Aventuras de Nhu Lobo”, prepara-se para lançar o mesmo em DVD animado. Na mão tem mais de 20 peças prontas a publicar, classificadas por “tragédias”, “comédias”, “tragicomédias”, “melodramas” e “dramas”, além de cinco obras de autores estrangeiros traduzidos em crioulo. Por: Otilia Leitão
Da janela do pequeno escritório na sua casa na Amadora, frente a um jardim verdejante, numa manhã solarenga que Armindo Martins Tavares, comparou com o calor cabo-verdiano, o autor fala-me ainda da compilação de estórias de Nhu Lobo deixadas para publicação, em 2005, no Instituto Nacional da Biblioteca e do Livro em Cabo Verde, que aguarda ainda qualquer resposta, um direito ao “sim” ou ao “não”, porque o silêncio esconde cumplicidades subjectivas.
Nas paredes da sua sala estão fotos de familiares, sobretudo dos seus filhos mas não dos seus progenitores. O desafecto do seu pai que lhe vedou o acesso ao conhecimento e lhe infligiu violências físicas e psicológicas está ostensivamente presente neste homem que já apresentou “Aventuras de Nhu Lobo” (teatro) na sua própria terra, Santa Cruz, ilha de Santiago, mas de “sala vazia”. Porquê? Perguntei-lhe, ao mesmo tempo que lhe acrescentei a metáfora da cobra que corria, corria, atrás de um pirilampo saltitante, para o matar, sem motivo... apenas porque o seu excessivo brilho a incomodava...
Armindo sublima esse facto, até porque apresentou esse ensaio, de capa ilustrada com um desenho de sua filha de onze anos, este Verão na capital cabo-verdiana, na exposição “Lusofonias, Culturas em Comunidade” no Palácio Cabral em Lisboa e este fim de semana, na Câmara Municipal da Amadora. É decididamente um homem do Teatro, que tem deferências com o actor, médico e dramaturgo, fundador do tradicional grupo ” Korda Kaoberdi, Francisco Fragoso.
Esta sua paixão desabrochou na idade madura, depois de um percurso a tentar encontrar um caminho para a sua vida, por si trabalhada, sem os pilares familiares que o harmonioso desenvolvimento humano necessita. Nasceu em Chã de Nispre. Só aos 9 anos se matriculou na escola primária. Andou 53 quilómetros a pé para fazer o exame da quarta classe e teve que vender umas calças jardineiras para pagar a matrícula do ensino secundário, em 1974. Tudo de forma intermitente entre “lambadas e palavras rancorosas” de um pai que tem quarenta filhos. No seu livro lê-se: no dia 7 de Outubro de 1974, véspera do início do ano lectivo na Praia, de sacola às costas e pronto para sair ouviu do pai: “Aonde é que o senhor vai? (palavra que significava a ausência de respeito ou estima). “Vou à Praia, as aulas começam amanhã”, explicou - “Vai mas é lá posar o saco. Tu é que mandas?” Armindo Tavares só fez o 1º ano, sete anos mais tarde, em 1982, já desmobilizado do serviço militar.
Depois do trabalho em notariado nas ilhas do Fogo, Brava e Praia e já com o 7º ano concluído, Armindo juntou-se a sua mãe, Ilda Mendes, a “Zita”, mulher, mãe de oito filhos, que emigrou de Cabo Verde, sozinha, para a Pedreira dos Húngaros, em Oeiras, um bairro de barracas de lata e cartão, hoje substituído por habitações sociais de alvenaria.
Depois, foi o trabalho temporário, às vezes precário, na construção civil, recepcionista, segurança, animador cultural, ao mesmo tempo que corria para as aulas nocturnas de Direito na Universidade Lusíada (1996), numa altura em que auferia um salário de 40 contos (200 euros) e a propina era 150 contos. Cursou outras ferramentas como Informática, Análise e Programação em (2001), Licenciatura em Dramaturgia (2006), Técnico de Produção Multimédia (2008).
Homem desempoeirado e de verbo fluente, que dá aulas e consultadoria documental, Armindo Tavares revela uma irreverência que não se conforma com respostas ambíguas. “Para me contrariarem o argumento, têm de dar-me uma explicação alternativa, coerente...”, justifica, admitindo que o inconformismo que o faz denunciar prepotências da polícia, incompetências de funcionários, atitudes de xenofobia ou má educação, o apelidam de “confuzento” (conflituoso), mas em meu entender é apenas uma pessoa que gosta de verdade e justiça e apenas pretende exercer os seus direitos consagrados na Constituição e demais documentos internacionais. Um dia perdeu o seu voo de Lisboa para Cabo Verde, porque ousou contestar uma informação incorrecta...a polícia quis ver-lhe todos os documentos...
Afinal, Armindo Tavares, o menino “de asas cortadas” a cavar a terra, mas que queria voar alto - tradutor para crioulo de obras de Tchekov, Alfred Jarry, Carlo Goldoni e Samoel Beckt, autor de tantas dramaturgias e de outras literaturas como o dicionário de crioulo/português (variante de Santiago) por publicar - confidenciou-me que as dezenas de ensaios que possui, escreveu-os antes de fazer o seu curso de teatro. “Hoje sei o que desconhecia! Aquilo que escrevia... já era teatro!”
otilia.leitao@gmail.com
Assinar:
Postagens (Atom)