segunda-feira, março 31, 2008

Colecção Dramaturgia Nacional




Vai acontecer no final da tarde de hoje o lançamento na Praia, no auditório do centro Cultural Português - Instituto Camões, da obra Teatro, da autoria de Mário Lúcio Sousa.
O livro insere-se na Colecção Dramaturgia Nacional, editada pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro e a Associação Teatral e Cultural Mindelact, que teve já um primeiro volume com peças da autoria de Espírito Santo da Silva.
"Adão e as Sete Pretas de Fuligem", "Salon", "Sozinha no Palco" e "Vinte e Quatro Horas na Vida de um Morto" - todas já encenadas - e "Diálogos com Satanás" são as cinco peças que compõe esta obra cuja apresentação irá encerrar o Março mês do Teatro.
O evento terá lugar pelas 18h45 e a apresentação estará a cargo de João Branco, Presidente da Direcção da Associação Mindelact. Cerimónia igual já tinha acontecido aqui em S.Vicente, com a presença do autor.



Imagem de 'Salon' de Mário Lúcio

sexta-feira, março 28, 2008

Prémio de Mérito Teatral 2008




Cerimónia simples,
Concorrida,
Centro Cultural do Mindelo,
Sílvia Lima em nome do GTCCP-IC,
Guia-nos docemente ao ano 93 do século passado…
Eram os primeiros passos – dados por gente imberbe –
do que viria a ser o grupo farol da nova largada das Artes Cénicas.
Nova largada, agora para um teatro outro, mais universal, mais técnico…

- Só por isso, a legitimidade para merecer o Prémio de Mérito Teatral 2008!

Sílvia Lima: a primeira peça aconteceu quase sem público – e era entrada grátis! - pelo que tivemos que sair à rua, e fazer tudo para tentar levar as pessoas para o nosso teatro… aliciá-las e conquistá-las para o mundo da magia do teatro.

- 15 anos depois, após 40 produções, e esforço, sangue e suor de muitos jovens empenhados na causa… Um Prémio de Mérito Teatral mais que merecido!
Aconteceu ontem, Dia Internacional do Teatro...
Em cerimónia simples, Concorrida, cheia de simbolismo e de emoções…No Centro Cultural do Mindelo – sede do teatro que se faz no Mindelo.

quinta-feira, março 27, 2008

A MAGIA DO TEATRO NÃO PODE PARAR

DIA MUNDIAL DO TEATRO (e do CIRCO)

Pémio de Mérito Teatral 2008


A magia não pode parar!!!



JB - Director Artístico e Encenador do Grupo Premiado





Hoje, no Dia Mundial do Teatro e do Circo, o Centro Cultural do Mindelo recebe a cerimónia de entrega do Prémio de Mérito Teatral da Associação MINDELACT.

Este ano, por decisão esclarecida da Assembleia Geral de 15 de Março, a estatueta vai para o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português.






Vejamos um pouco do historial do grupo premiado deste ano – o GTCCPM

Desde 1993 o Grupo de Teatro do CCP do Mindelo - ICA, tem tido uma actividade bastante intensa na produção de espectáculos teatrais - já lá vão 30 produções teatrais diversificadas, quer a partir de textos colectivos, como por exemplo Nós, Pescadores, Eu Sou Teu Escravo?, Sonhos e Mancarra; quer pelo aproveitamento de textos de autores conhecidos para dramatizações 'crioulas', como o foram O Fantasma de S. Filipe, a partir de Oscar Wilde, O Último Dia de Um Condenado, a partir de Victor Hugo, A Birra do Morto de Vicente Sanchez, A Casa de Nha Bernarda e Sapateira Prodigiosa de Garcia Lorca, Os Dois Irmãos de Germano Almeida, Romeu e Julieta e Rei Lear de William Shakespeare ou O Médico à Força de Moliére; ou ainda através da concretização de co-produções com outros grupos ou entidades não cabo-verdianas, como o caso da peça As Virgens Loucas de António Aurélio Gonçalves, em 96, Os Velhos Não Devem Namorar, de Alfonso Castelao, co-produzido com o Grupo de Teatro Elinga de Angola em 1998, ou Cloun Creolus Dei, uma co-produção com o Teatro Meridional em 1999.

É o grupo mais produtivo da história do teatro cabo-verdiano, tendo acabado de estrear a sua 40ª Produção Teatral, A Última Ceia. Além disso, conta com mais de duas dezenas de participações em eventos internacionais, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Brasil e Holanda.

De salientar ainda o Prémio Teatral de Mérito Lusófono, atribuído pela Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento do Mundo de Língua Portuguesa, no final de 1996, "em reconhecimento do seu trabalho de formação e do seu esforço de cooperação com o teatro português". Prémio entregue numa cerimónia realizada na cidade brasileira do Recife.

É um dos três grupos fundadores do Festival Internacional de Teatro do Mindelo - Mindelact.

Como vem sendo hábito desde 1999, o Prémio de Mérito Teatral será entregue na cerimónia desta tarde no CCM, no que será não só uma significativa homenagem ao grupo premiado, como mais um motivo de confraternização entre agentes teatrais, grupos de teatro e amantes das artes cénicas cabo-verdianas.


Esta é a décima edição do Prémio, que tem como principal objectivo servir de incentivo para aqueles que, de uma forma ou de outra, tem contribuído para o melhoramento do nosso teatro.


Prémio de Mérito Teatral


Lista dos galardoados pelo Prémio de Mérito Teatral, desde a sua criação, em 1999:

1999 - Grupo de Teatro Juventude em Marcha & Sr. Mário Matos
2000 - Francisco Fragoso
2001 - Escola Salesiana & Centro Cultural Português / ICA
2002 - Jornal A Semana & Rádio de Cabo Verde
2003 - Público do Mindelo
2004 - Ciné-teatro Éden-Park
2005 - Banco Comercial do Atlântico / BCA
2006 - Luísa Queirós
2007 - César Fortes
2008 - Grupo de Teatro do Centro Cultural Português - IC

segunda-feira, março 24, 2008

Dja d’Sal no Festival Internacional de Teatro de Albufeira

Com a devida vénia, repomos aqui no blog do Atelier Teatrakácia, a notícia sobre a participação dos colegas do Sal (Estrelas do Sul - ou será que mudaram de nome?)no Festival Internacional de Teatro de Albufeira - Portugal.

Muita Meeerda!!!



Um texto de TSF, no asemanaonline:


'O grupo Dja d’Sal, da vila de Santa Maria (ilha do Sal), apresenta hoje, 24, em estreia absoluta no Auditório e Centro Comunitário de Paderne, a peça “Neptuno, moderno e fanfarrão”. Dja d’Sal participa no I Festival Internacional de Teatro de Albufeira, região do Algarve (Portugal).

A peça, co-escrita por Victor Silva e Gilberto Évora, será reencenada na quarta-feira, 26, num espectáculo para a comunidade cabo-verdiana residente na cidade de Faro, é escrita em crioulo e português e conta a história de um rei do Mar - Neptuno - que se apaixona por uma crioula, tendo como pano de fundo a cultura cabo-verdiana.
Além de Victor Silva, actor, dramaturgo e encenador, fazem parte da comitiva do Dja d’Sal os actores Kavi Inocêncio, Nelson Brandão, Celi Fortes, Stefania Duarte e Doriliana Ramos, mais o técnico de som e luz Tchida Silva e a figurinista Janine Duarte.
No I Festival Internacional de Teatro de Albufeira, que é gratuito e organizado por Grupo de Teatro Guizos e Grupo Cénico Quatro Ventos com o apoio da Câmara Municipal e Centro Comunitário de Paderne, participa também o grupo Os Guizos, com a peça «Dulce, a doce - ou a impossibilidade do teatro», na terça-feira, 25, no Auditório e a 5 de Abril no Centro Comunitário de Paderne, às 21h30.
Na noite do Dia Mundial do Teatro (27 de Março), o Grupo Cénico Quatro Ventos estreia «Com os Fantasmas não se brinca», no Centro Comunitário de Paderne, repetindo-se a 4 de Abril. Ambas decorrem pelas 21h30. No dia 29, o Auditório recebe, pelas 21h30, «Evita, Eva Péron», do Teatro Arte Livre de Vigo.
Domingo, 30, às 15h30, outra estreia no Centro Comunitário de Paderne, a de «O Pastorinho Amoroso - Fernando Pessoa para crianças», do grupo Os Guizos. A peça volta a subir ao palco a 6 de Abril. A peça japonesa «Hanjo», da Companhia Paulo Lage, está em cena ao ar livre, às 21h30.'

TSF


PS: Boa sorte por lá! E que representem bem as artes cénicas crioulas!

sexta-feira, março 21, 2008

Parabéns a Você!





Uau! Parabéns ao GTCCP!!!


Há muito que se esperava, e aconteceu da melhor maneira: No primeiro ano em que a Direcção do Mindelact não levou propostas para a reunião magna do Mindelact, a Assembleia Geral - soberana que é - propôs e elegeu esse grupo marcante da era moderna do teatro cabo-verdiano, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo. Melhor não poderia ser. Pela segunda vez o Prémio de Mérito Teatral vai ser entregue a um grupo, depois do popular e movimentador de massas Juventude em Marcha.


Encontro marcado para a cerimónia solene de entrega do Prémio - 27 de Março, 18h30, no Centro Cultural do Mindelo. Como sempre, no Dia Mundial do Teatro!



Parabéns GTCCP!!!

(e parabéns também ao mandatário!)

quinta-feira, março 06, 2008

MARÇO - MÊS DO TEATRO - Dramaturgia



E porque esta sexta-feira, 07 de Março, teremos da Colecção Dramaturgia Nacional, o segundo volume com peças de Mário Lúcio Sousa… propomos hoje aqui no Teatrakácia, repôr uma entrevista concedida pelo autor, justamente sobre essas andanças de experimentar escrever para o Teatro.

«A dramaturgia é o único espelho literário que existe.»


Pergunta: Para início de conversa gostaríamos que nos dissesse qual a sensação que fica depois da experiência que teve na qualidade de escritor na área da dramaturgia, a ver a sua obra no palco.

Mário Lúcio: A nível da expressão literária foi para mim uma experiência nova e só se me comparou a quando se assiste ao nascimento de um filho. Foi exactamente a mesma impressão na medida em que a pessoa escreve – ou concebe – e depois vê toda essa pretensão ou desígnio convertida em vida.

P: Com a encenação.

Mário Lúcio: Precisamente, com a encenação. Portanto o texto escrito é uma imaginação, uma viagem para um universo de todo o modo abstracto, e de repente nós vemos as pessoas, as personagens, os espaços a nascerem dessa imaginação e a tomarem corpo e dinâmica próprios. Às vezes nos sentimos também surpreendidos, é como se esse processo fosse algo desgarrado da nossa criação original.

P: E poder-se-á dizer que é um pai, desses cuidadosos, que acompanham todo o processo?

Mário Lúcio: Eu tive a sorte de trabalhar com o João Branco e com uma excelente equipa, e eles permitiram-me desfrutar de experiências e situações artísticas que não faziam parte do meu horizonte, das minhas aspirações. Uma grande experiência para mim foi ter assistido ao casting, à escolha dos actores, e o João consultava-me e estivemos quase perto de estarmos praticamente em consenso. Também houve outras situações muito interessantes, como quando assisti o início dos ensaios e também ao ensaio para a imprensa, ainda sem público, dois ou três dias antes da estreia. E todo esse processo foi como realmente anunciar uma gravidez e depois termos essa possibilidade de acariciar todo esse processo de gestação até ver junto com o mundo essa entrega à luz, que é uma expressão que até cai bem ao teatro...

P: No caso concreto de “Adão e as Sete Pretas de Fuligem” acha que esse filho, o Adão, parece-se consigo ou com a mãe?

Mário Lúcio: Acho que tem das duas coisas. A concepção é importante mas o João tem uma forma muito própria de interpretar os textos e essa forma vai permitir, agora que nos conhecemos melhor, e ainda dentro dessa metáfora, de celebrar o matrimónio, porque agora já tenho outras preocupações. Por exemplo, antes eu tinha que fazer imensas descrições dos cenários, das movimentações dos personagens, e agora posso ocupar-me melhor com o enquadramento dos diálogos. O João encontra soluções estéticas muito elevadas para os textos, que no papel tem todo o cabimento, mas no palco não pode haver situações forçadas. Ele tem soluções que não estão previstas no texto, essa é a sua forma de trabalhar. Ele mais do que aplicar um texto, respeitando as palavras todas e as ideias todas, cria situações que complementam a interpretação desses textos. De forma que Adão tem muito do pai porque respeita toda a fisionomia, mas no comportamento, pode-se dizer que é um filho da mãe (risos).

P: Deve-se entender que houve momentos de alguma cedência da parte do pai...

Mário Lúcio: Exacto. Mas foi natural, pois eu sempre trabalhei em grupos. Enquadro-me bem em trabalhos de grupo. Eu vivi desde miúdo num quartel militar, fiz toda a minha carreira universitária em Cuba, onde vivíamos várias pessoas no mesmo apartamento, com toda aquela educação comunitária e depois entrei no Simentera, ou seja, sempre partilhei os meus conhecimentos e os meus sentimentos com um grupo. O texto inicial era um texto muito longo, pois eu tinha-me proposto fazer uma leitura da exclusão no seu sentido mais amplo, até à auto-exclusão, mas também queria falar de uma coisa que acontece muito hoje em dia que é a exclusão política, e que é muito violenta. Isto é, os políticos servem-se uns aos outros e estão todos dentro do mesmo saco. Quando se discorda, aquele que foi bom ontem é uma víbora amanhã. Isso em África é muito comum. Eu quis tratar todo o processo das ex-colónias, onde houve muita exclusão, sobretudo em Angola, e então o texto original era muito longo, daria para cerca de duas horas e meia de teatro. O João sugeriu-me que havia um momento alto na peça e que gostaria que o final fosse ali, e então o texto ficou, poderá haver outros encenadores que queiram trabalhá-lo. Foi só uma forma de trabalhar em conjunto e eu prontifiquei-me em trabalhar a escrita para um final específico, que ele sugeriu. E foi muito bom, porque foi um momento muito criativo para mim, substanciado na cena final dos santos, que me deu imenso gozo artístico, entrar nesse mundo e aprender muito com isso. Depois o final acabou por ser mesmo uma escrita minha, mas a partir de uma proposta do resto do grupo.

P: Portanto a sua própria vida deu-lhe um trunfo que o ajudou a entrar no mundo do teatro, que é um mundo do colectivo.

Mário Lúcio: Sim. Foi uma experiência muito gratificante a vários níveis, até porque normalmente a criação é um acto solitário. E todo o meu processo de criação tem sido um acto solitário embora na hora da execução e da experimentação venha a ser um processo de discussão, de partilha. Mas com o teatro, neste caso específico, directamente ligado a métodos do encenador, deu-me a possibilidade de me sentir um escritor de marionetas, que também as houve no espectáculo. Eu sentia que os actores também eram meus, eu tinha ajudado a criá-los...

P: Podia manuseá-los...

Mário Lúcio: Exacto. Isto deu-me vários amigos, várias paixões. Ainda hoje tenho uma enorme paixão por essa obra, pelo encenador e pelos actores. Passaram a fazer parte da minha vida, porque foi um momento muito importante de encontro de seres humanos.

P: Temos estado a falar mais do período pós produção, gostaríamos de saber no que diz respeito concretamente à parte da criação, à parte solitária, como disse, se foi também gratificante, ou havia mais a preocupação do compromisso assumido?

Mário Lúcio: Foram as duas coisas, na medida que eu nunca trabalhei sob encomenda. Mesmo no caso do Sementera, gravámos de dois em dois anos porque tenho a preocupação de deixar que as músicas nasçam. Na minha estrutura mental os prazos tem alguma importância, porque incitam-me, vão provocando ideias. E quando recebi esse convite do Porto 2001, e o João telefonou-me e falou comigo, eu respondi, porque gosto desse tipo de colaborações, mas também queria aceitar esse desafio. Não era só um desafio de compromisso, mas de escrever um texto para ser encenado e mais do que isso, ir ao encontro de um tema que me foi proposto. Também gosto de trabalhar nesse sentido, compor para filmes, por exemplo. Fiz a banda sonora de “Adão e as Sete Pretas de Fuligem” porque é bonito nós irmos de encontro às aspirações do outro. E eu aceitei, e comecei a pensar no que é que se poderia fazer. Foram vários meses de reflexão, geralmente à noite, um sono acordado que origina um cansaço terrível, e surgiram várias ideias nesse período. Pensei em vários cenários. Por exemplo, que poderiam ser sete mortos, o que era uma coisa engraçada, porque começava a meio metro do piso do palco, portanto toda a encenação seria subterrânea e os mortos levantavam-se e contavam em perspectiva o que lhes tinha sucedido na vida. E aí havia várias diferenças, diversidade humana, diversidade de vivências. Mas acabei por mudar de ideias porque era um cenário um tanto ao quanto macabro, embora fosse certo que o João daria àquilo toda a comicidade merecida, mas a mim o caixão é algo que me choca, e desisti da ideia, porque esse simbolismo poderia também afectar a sensibilidade de outras pessoas. Foi assim que surgiu a ideia da parábola da Branca de Neve e os Sete Anões.

P: Ainda um pouco mais sobre a parte criativa, essa parte de pensar nos personagens, criar para o teatro, o escritor nessa outra expressão, que é a dramaturgia. Fica-lhe a vontade de repetir essa experiência?

Mário Lúcio: Sim, hoje em dia sim. Até porque já sei minimamente navegar e sobretudo quando se trabalha em parceria com um encenador desde o princípio. Eu confesso que tinha uma ideia da obra, escrevi a sinopse, eu e o João falámos muito, em cafés e noutros locais, e foi-me dando ideias. Mas chegámos a um ponto que foi também de sofrimento, quando eu não tinha soluções técnicas para trazer o personagem à cena. Havia desembarques de personagens em Lisboa, chegadas de barco ao país de origem, discussões numa praça, uma discoteca, havia desfiles militares, cenas antes da independência, cenas dezoito anos depois...

P: Resumindo, o criador não deve pensar na encenação...

Mário Lúcio: Eu como já tinha o hábito de escrever guiões para documentários e espectáculos, procurei seguir essa linha, mas foi um processo de sofrimento. Só depois me apercebi que realmente essas soluções técnicas cabiam ao encenador, mas eu continuo a trabalhar assim, a sugerir, porque senão complico a vida ao encenador e também porque não saberia enquadrar exactamente o que eu quero. Daí que às vezes propunha soluções desse tipo, que fazem parte mais do texto do que da encenação, mas onde certos elementos da encenação entram como elementos plásticos do texto.

P: Esse relacionamento com o encenador, para o escritor, é uma facilidade.

Mário Lúcio: Exactamente. Para mim constitui uma enorme facilidade porque eu não gosto de complicar as coisas. Assim sei que o trabalho vai numa linha e que essa linha permite-me uma enorme aprendizagem, isto é fundamental, porque é uma matéria que eu não domino, e também essa minha aprendizagem vai facilitar posteriormente a encenação da obra. Então é todo um processo de partilha, onde eu funciono também como aprendiz.

P: Tecnicamente falando, a dramaturgia é algo bem diferente do resto que se possa escrever. Que comentários?

Mário Lúcio: Para mim foi muito diferente, porque na minha prosa eu não gosto de escrever diálogos, travessões e parágrafos. Comecei na literatura pela poesia, que continuo a produzir, depois escrevi um livro de prosa, que acho que teve algum papel nesse convite que me fizeram, mas é um texto que não tem travessões, não tem diálogos sistemáticos, eles estão narrados, como eu gosto de escrever. E de repente na dramaturgia temos que estar permanentemente a fazer ponto parágrafo travessão, ponto parágrafo travessão. Incomoda-me muito. Não nos permite muitas loucuras, porque as personagens não habitam dentro de nós no teatro, como acontece nos outros géneros. No teatro nós temos que ser actores, isto é, os vários personagens são fingimentos de mim. E então é possível também entrar em contradições comigo. Aliás, acho que a dramaturgia é o único espelho literário que existe e mostra-nos que cada homem é vários homens. E isso aconteceu-me. Tive que aceitar ser mulher, mais do que a metade que naturalmente sou, tive que aceitar ser bruxo, aceitar ser meio homem, que todos nós somos, e tive que aceitar ser o despistado, o racista, o ditador, o machista, que são coisas que nos habitam e a escola nos ensina a camuflar, mas no processo literário como é o teatro, onde nós temos que ser esses personagens, aí não há nada a esconder. E então foi esse processo, primeiro em termos técnicos e estéticos de aceitar permanentemente fazer cortes para que os personagens pudessem falar, mas também aceitar que não estava a criar personagens para me servir, como é o caso da poesia ou da prosa, mas que realmente eu estava a deitar fora as várias personagens que me habitam. E isso foi uma grande aprendizagem e tive que aceitar que nós somos esse aglomerado de coisas, incongruentes, às vezes.

P: Em “Adão...”, a exclusão era o tema. Sabemos que neste momento há uma outra experiência em curso...

Mário Lúcio: Sim. Quando eu me encontrei com o João Branco no Porto, nós falamos muito, até porque tanto ele como a Ana Cordeiro gostaram muito do texto. Aliás confesso que quando o enviei, não fazia ideia de coisa nenhuma que se iria passar, porque nem eu mesmo gostava do texto, não sabia muito bem o que tinha escrito, não sabia se iria servir. Mas eles gostaram. Depois a Isabel Alves Costa do Porto 2001 também gostou e nas conversas fui explicando porquê é que criei as várias personagens femininas. E umas das personagens é a cabeleireira. E sempre considerei que o local mais democrático do mundo, pelo menos aqui em Cabo Verde, é um salão de cabeleireiro, onde vão todas as pessoas e todas tem direito de falar e de especular e de dizer aquilo que querem. É o sítio onde nada se esconde, diz-se tudo, sabe-se tudo e aquilo que não se sabe inventa-se, e o mais terrível é que a invenção acaba por coincidir com algum facto. E o João disse, olha curiosamente, eu tenho um sonho de fazer uma peça que se passe dentro de um salão de cabeleireiro... (risos)

P: Foi um prelúdio...

Mário Lúcio: Pois, e eu disse-lhe, então está escrito. Fomos desenvolvendo ideias e eu deixo as coisas cozinharem até que esse fenómeno que se chama limite do tempo comece a provocar uma adrenalina e eu pus-me o compromisso de até Novembro ter pronta uma sinopse, durante a digressão que fiz entretanto fui tomando notas para encontrar uma solução estética para o que eu cria narrar, e apresentei ao João a ideia geral dessa nossa obra que se chamará “Salon”...

P: Salon di cabeleireiro...

Mário Lúcio: Exacto e há esse jogo de palavras que nos faz associar essa palavra aos salões do Western, porque realmente é um sítio onde acontece todo o tipo de situações. Já estamos em fase avançada. Dentro de alguns dias vou começar a escrita integral do texto.

Entrevista de Fonseca Soares, publicada no nº9 da Revista Mindelact, em 2002.

terça-feira, março 04, 2008

MARÇO - MÊS DO TEATRO - Grupos em directo na TCV



Com a devida vénia, retomamos aqui esta informação importante para o Teatro Nacional, e para os agentes do nosso teatro.

Um post da nossa camarada Sarron.com.



Numa proposta que visa o incentivo ao Teatro Nacional, a TCV levará a cabo todos os Domingos a partir das 21h30 um talk-show com a duração de cerca de 45 minutos, incidindo sobre as mais diversas áreas do teatro, os grupos de São Vicente, e não só, seus projectos, suas experiências, suas dificuldades e os bastidores desse género cultural que, após anos de insistência, acabou por conquistar um público cada vez mais exigente.

O programa é realizado por Carlos Freitas, apresentado por Filomena Alves e a primeira edição estará no ar no próximo dia 9 de Março, Domingo.

Para cada edição estará representada uma companhia teatral mindelense. E para o pontapé-de-saída foi convidada a Sarron.com - Companhia de Teatro.

Uma oportunidade dos telespectadores e do público nacional partilhar imagens e experiências com a mais jovem companhia teatral de São Vicente que, no ano em que completará três anos de vida já conta com três produções e está a preparar mais duas para ainda este ano.

O programa terá seu término numa edição com o grupo teatral Juventude em Marcha e com a colaboração de entidades culturais, agentes e representantes de outras companhias.

Conta-se ainda com a importante colaboração de Sua Excelência, o Ministro da Cultura.

Durante os vários programas também estarão em linha representantes de grupos de Santiago, entre os quais César Schofield, Grupo de Teatro OTACA e Fladu Fla.

E nós do atelier teatrakácia, estaremos no mesmo espaço a 30 de março 2008.